OS ALPINISTAS DA SERRA DA MICRO-ONDAS

Crônicas

Por Remi Bastos

O ano talvez tenha sido 1968, 02 de novembro, dia de finado. Encontro-me com Reginaldo Falcão por volta das oito horas em sua residência na descida da Avenida Dr. Arsênio Moreira, bem próximo a Pracinha de Sebastião Jiló, onde o convido para irmos à bodega do Terezão, pois sabia que Motorzinho estava dormindo lá com o proprietário da velha taberna. Após tomarmos alguns copos de vinho Dom Bosco partimos para o encontro dos dois amigos. Ao chegarmos batemos a porta e logo ouvimos a voz do Motorzinho que dizia, compadre Gevô tem alguém querendo comprar cachaça. Reginaldo continuava martelando a porta, quando de repente surge o Terezão com uma garrafa de guaraná Crush envolvida em uma flanela, dizendo assim: “Ladrão comigo é na bala”, apontando a boca da garrafa para nós dois. Foi quando Reginaldo falou: “guarde esta bobônica porque daí não sai nem peido”. Adentramos a bodega, quando percebemos que os dois amigos passaram a noite tomando cachaça dosada com vinho Zé da Onça e tira-gosto de sardinha. A partir daquele momento, os quatro deram prosseguimento à brincadeira.

Em um dado momento sugeri subir a Serra da Micro-Ondas, antiga Serra do Cristo, pelo lado do “Panema”. A sugestão foi acatada, e a parti daí iniciamos os preparativos da bebida que levaríamos para aquela aventura em pleno dia de finado. Toda espécie de cachaça da linha rinchona foi colocada em dois litros, um pouquinho de uma, um pouquinha de outra. Para dar tonalidade ao produto, despejamos uns quatro dedos de guaraná laranjada clíper e agitamos. Por volta do meio dia partimos com destino ao improvisado, escalar a Serra da Micro-Ondas. Ao passamos na Rua Nova nos deparamos com o Erasmo, que certamente naquela hora do dia já havia iniciado o abastecimento. Fizemos o convite, aceitou, e partimos os cinco rumo ao “beiço do Panema”. Nas areias do velho rio providenciamos um copo para facilitar o entorno da bebida, que foi nada mais que uma quenga de coco. Lavamos este objeto com areia e água da cacimba e logo tomamos duas, em seguida atravessamos o rio seco no sentido da serra.

Iniciamos a subida, aqui e acolá sempre nos abastecendo. Um dos litros logo “se afubiou” (alisou, secou), entramos no segundo. A subida cada vez mais se tornava perigosa. Quando perdíamos a trilha, Reginaldo dizia, vamos tomar uma para encontrar o caminho. E Por aí fomos. Já puxávamos fogo quando chegamos ao topo da serra. Para nossa surpresa encontramos em um quarto alguns ovos. Improvisamos um fogo com pedaços de paus e cozinhamos os ovos. O segundo litro logo se despediu. Houve um contratempo e então, retornamos por outro caminho, os cinco alpinistas bêbados e sem se falarem. Não me arrependo de nada daquilo que desfrutei na minha juventude com os amigos. É uma pen que alguns já nos deixaram, mas, que procuro lembra-los nas pequenas histórias que escrevo e me emociono.

Aracaju, 04.01.2017.

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