PROSTRAÇÃO

Crônicas

Remi Bastos

O vento frio da noite assobiava entre as frestas da janela tecendo um cenário de tristeza naquele domingo 13 de novembro de 2016. O relógio na parede assinalava as duas primeiras horas do dia, apenas o vento e o tic tac do relógio quebravam a taciturnidade daquele momento de fraqueza e esperança. Estou só em minha cadeira de almofadas, o sono se desfez, deixando apenas a sentinela da insônia na vigília da solidão. Os meus joelhos castigam-me nas dores, deixando-me inquieto naquele pequeno espaço de aconchego. Tomo mais um comprimido de analgésico e fecho os olhos tentando pegar uma carona na indolência e fugir àquela prostração que ronda os meus dias. Em meio a este sofrimento apenas as lágrimas vêm em meu socorro numa forma de conforto e carinho. Ligo a televisão, mas nada me satisfaz e logo desisto. Estendo os meus pensamentos além de mim e voo nas asas da imaginação, na tentativa de aterrissar num porto onde a paz, a felicidade e o sorriso comunguem em harmonia. Vejo-me agora como aquele menino que construiu o seu barquinho de papel e o viu na distância desaparecer entre os trilhos sinuosos das águas em sua missão de ser lançado ao velho açude.
As horas passam como nuvens lentas, desenhando em sua trajetória o retrato das chuvas que logo avivarão o regato, renovando o cenário e trazendo de volta as borboletas coloridas em panapanás. O dia lentamente desponta como uma carruagem universal comandada pelo nosso astro rei, o sol, entre as cimeiras dos edifícios. Deixo a cadeira de almofadas apoiado na inseparável bengala e percebo que as dores aliviaram um pouco o meu sofrimento. Sinto que os meus joelhos finalmente se renderam aos analgésicos e a paciência. Caminho normalmente, conservando apenas em mim, as sequelas da minha solidão. Outros dias se passaram, estou às margens de um novo ano. As canções natalinas, apesar de se mesclarem com as propagandas comerciais, sempre deixam um rastro de saudade. Feliz Natal, Feliz Ano Novo, que 2017 abrace a minha família e os meus amigos com a brisa da paz e da prosperidade, e que a saúde e a esperança por dias melhores sejam constantes em nós nos dias que virão.

Aracaju, 28.12.2016.

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