MEU PAPAI NOEL

Crônicas

Remi Bastos Silva

La se foram os meus dias de Papai Noel! Minha rua, minha crença, minha inocência, tudo isso fez parte da minha infância e adolescência. Fui uma criança que contemplei os voos das borboletas nas margens do meu rio, outrora abundante em suas águas, às vezes barrentas, às vezes cristalinas. Adormeci sob o piscar das luzes dos pirilampos nos espaços da janela do meu quarto e sonhei os sonhos das fadas no meu universo pueril. Meus dias não eram apenas um dia, mais uma eternidade, cuja estrada não tinha início nem fim. Fui uma criança que encontrou na felicidade, a razão de ser criança. Cantei com minhas irmãs as cantigas de roda na calçada da minha casa, pulei corda, arremessei o meu pião, joguei ximbra (bola de gude), me emocionei com a sinfonia dos pássaros e chorei com o canto fúnebre das rasga-mortalhas ao entardecer, retornando dos seus voos à torre da igrejinha do Monumento. As rosas se desfizeram de suas pétalas para perfumar os caminhos por onde andei, sorri e chorei. Vi minha cidade, todos os anos, cantar as canções natalinas através do pastoril de Dona Jacira, a Fada dos nossos pastoris. Acreditei em Papai Noel e sua longa viagem, da Lapônia, sobre as nuvens, em seu trenó. Em Santana do Ipanema, nos dias que antecediam o natal, o nosso Papai Noel percorria algumas ruas do meu bairro fazendo entregas de presentes à meninada mais abastecida. Juntamente, com alguns amigos, todos os anos acompanhávamos o bom velhinho em sua árdua tarefa, carregando sobre os ombros o saco cheio de presentes. Papai Noel, cadê o meu presente? Somente, entendi, já nos meus quatorze anos de idade, que o nosso Papai Noel era um senhor por nome, Albertino Marques, e que, fazia a distribuição dos presentes, principalmente, nas residências do gerente do Banco do Brasil, de alguns comerciantes bem sucedidos, do juiz de direito, do delegado e bancários, etc. No entanto, foi no natal de 1959, após ter acompanhado o Papai Noel em mais uma de suas missões de entregar presentes nas residências previamente endereçadas, foi justamente, neste ano, depois de inúmeras tentativas solicitando o meu presente sem obter resposta, e ver o bom velhinho jogar o saco vazio sobre os ombros, simplesmente eu disse: “Papai Noel fi di rapariga.” E saí correndo indo parar no campinho de Seu Abílio Pereira, ao lado do Tênis Clube Santanense.

Remi Bastos,
Aracaju, 16/12/2019.

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