O CONHECIMENTO ESTÁ UNDERGROUND

Reflexões

Ana Rachel Nobre

Em pleno século XXI me parece que ser culto virou cafona, valorizar a cultura está fora de moda, ler um livro é perder tempo, assistir a uma peça teatral dá sono.
Em plena era da informática muitas pessoas se bastam dela para "viver"! Não saem mais de suas casas, da frente de seus computadores, leem meia dúzia de fases de alguns escritores que são postadas na rede e se julgam conhecedores da obra e até da biografia do autor, onde o que leram foi apenas uma frase. Mas, e essa frase, é de que livro mesmo? De que trata o contexto desta obra? O que o escritor quis passar na moral da história? Bom, isso não interessa, pois daqui a pouco outra frase será postada e dessa nem lembram mais, quanto mais do valor da obra e da "cara" do escritor, ou da sua maneira única de escrever, pois quando lemos, fica fácil reconhecer a escrita de cada um, vamos nos identificando ou discordando de tal pensamento, viramos não apenas leitores, criamos a obra junto.
E o que me dizem de uma peça teatral, do valor de assistir e aplaudir de pé quem tanto se esforça para nos fazer rir, chorar, se emocionar? E o que me dizem da valorização? Valorização humana, artística, da música da terra, do artista da terra? Acho que também não deve ser legal sair de casa para isso, não é?
Comparo a valorização da Cultura com o que acontece também com a Igreja. Sempre sobra tempo de ir "naquele" bar da moda, de ir tomar vinho com os amigos, de ir na praça fazer "nada", de ficar horas a fio na frente do computador, mas quando chega perto da hora da missa, dá um sono danado, a preguiça bate, ou não dá tempo de ir pois tem muita coisa pra se fazer, e Deus fica pro próximo domingo, o artista fica para a próxima peça, o livro fica para o próximo mês.
Nessa sucessão de próximas vezes, vai se acumulando a falta de interesse, a falta da fé, a falta da cultura. Vai se alimentando uma alienação constante de que: “Ah, eu sou descolado, minha página na internet bomba, na roda de amigos sou o mais engraçado e sei rezar o Pai Nosso, pronto, não preciso cultuar bons livros, admirar artistas da terra, conhecer quem escreveu o prefácio daquele livro, ou participar de uma oração carismática.”
Na atual limitação cultural em que vivemos, dói ver um artista não ter plateia, dói ver péssimos livros nas prateleiras sendo mais vendidos do que obras de grande valor cultural, dói ver o artista cantar para não chorar, dói ver a péssima música tocar e o povo dançar, é, literalmente "dançar" em ritmo de alienação pessoal e cultural.
Não precisa saber de tudo sobre literatura, música, teatro para ser culto, procure o que mais se parece com você, apaixone-se pelo quadro de um artista e conheça a história dele, adote seu escritor favorito e o conheça tão profundamente a ponto de reconhecer apenas uma frase sua, vá a mais peças de teatro, por mais simples que sejam, faz um bem danado a alma, ouça boa música, que acalma o coração, veja besteiras também, pois faz parte, ria na roda de amigos, continue bombando na internet, fique em casa tranquilo sem fazer nada, isso é muito gostoso, mas, não se deixe parar no tempo, não se permita ficar de fora da história, use a seu favor o que cada coisa tem de melhor, saiba falar um pouco de cada assunto, só vivemos uma vez, precisamos apreciar os bons momentos da vida, perder uma gargalhada gostosa de um artista que se transforma em vários personagens num espetáculo de 1h, pode fazer uma diferença enorme naqueles dias em que você está triste. Relembrar um trecho de uma história daquele escritor que você conhece tão bem, pode clarear seus pensamentos em dias nublados... Cultura só faz bem, mal, ela não faz a ninguém!
Um salve, para quem ainda quer salvar a cultura, a quem ainda mesmo sem plateia continua!

Ana Rachel Nobre
Santana do Ipanema – Al
22.01.2012

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