AGORA SÃO ELAS

Crônicas

por José Malta Neto

Silvano Gabriel na aberturta do espetáculo

Abrem-se as cortinas... Atores apostos, música pronta, artistas coadjuvantes em prontidão. Musical anterior não acontece... chegou a hora é a plateia, cadê?

Noite de sábado, festa católica em Santana do Ipanema, milhares de jovens do sertão louvando a Deus e adorando uma cruz peregrina na juventude, cruz vinda de muito longe e visitando a diocese de Palmeira dos Índios passando inicialmente pela sede, depois Santana do Ipanema e segue seu rumo evangelizador.

Por que será que iniciei essa crônica dessa maneira?

Na praça uma multidão sons, orações milhares de jovens...

No Tênis Club Santanense o artista espera a plateia que não chega... 150 ingressos vendidos, 150 cadeiras colocadas a disposição. Som devidamente ajustado, o artista pronto mas o objetivo maior do espetáculo não foi alcançado, apenas 17 pessoas compareceram. Mesmo assim o jovem professor, cordelista, artista popular não perde o sorriso, sorriso um tanto quanto forçado, pois é chegado o momento, a hora. Pensei que o espetáculo não ia acontecer, mas o artista nos chama e sob um som brasileiríssimo começa a peça.
Silvano inicia dizendo da sua ansiedade e dos seus desencantos. Até o cantor que iria fazer a abertura da apresentação não estava pronto, saiu um pouco e só chegou depois do início do espetáculo.
Grandiosa plateia!!!! começa Silvano, com sua roupa branca, pandeiro na mão e aquarela do Brasil ao fundo. - estou aqui para lhes apresentar AGORA SÃO ELAS. Não observamos nada de anormal, exceto um pequeno desajuste no roteiro, talvez ocasionado pela desistência dos demais membros do grupo Os Quatralhões que não quiseram se apresentar, será que por vergonha?.

Araquitanha e sua performance

Mas continuemos, chegou o Zé Brasil, um bêbado mostrando o mundo do alcoolismo, depois Maria Brasil, apresentando a discriminação da mulher. Araquitanha com sua peruca laranja neon, apresentando um choque na cultura músical, em um mix de rap, funk, pagode e samba. O assovio do Matheus um dos integrantes do público fez a jovem se inflamar e melhorar a performance. Depois vem a baiana dos terreiros de xangô, tentando conseguir alguns trocados com consultas, mas voltou sem nada no bolso. Por fim chegou a vez de Maria Cipó, com seu vestido longo vermelho e várias performances com paródias à mulher brasileira tais como: forte, louca, sentimental, apaixonada etc.
Fim de espetáculo, o apresentador tenta fazer uma foto com o artista ainda incorporado as facetas da Maria Cipó, mas de longe observamos o choro copioso do artista abandonado pelos seus colegas, público e apenas ovacionado por 17 espectadores que de pé aplaudem Silvano Gabriel. Ele se recolhe ao seu biombo e volta sem nenhuma performace, de cara limpa com o pandeiro na mão e junto com o artista Marcos Cassis canta uma capela com um tom de revolta. Termina o espetáculo dizendo: Não vou desistir, obrigado grande plateia que aqui está. Vocês não vieram pelo ingresso, tampouco buscando uma mega apresentação, mas vieram ver esse artista afro-descendente que luta pela cultura da terra, de linguagem simples de cara limpa ou as vezes pintada. De Baiana, Araquitanha, Maria Cipó ou apenas Silvano Gabriel.

Obrigado a Deus e a vocês.

Agora desejo terminar essa crônica, um tanto quando lamentosa por ser um dos que estava entre os dezessete presentes e dos 150 pagantes. Será que pagar por caridade é o valor real que o Silvano queria? Agora olha que irônico, fim do espetáculo e que tal um lanche e um papo para distrair, isso mesmo, fomos a praça Dr. Adelson Isaac de Miranda e lá encontramos mais alguns pagantes que simplesmente esqueceram de ir a peça. Por que será? Ah me lembrei: talvez porque dentre os personagens do Silvano não estava algo enfatizando “Mais Raparigueiro do que eu só papai”, nem tampouco uma banda iria se apresentar. Opa. Silvano coloca o enfinca e muda o nome da peça, quem sabe não lota no próximo.

O paragrafo anterior na verdade é apenas uma observação ao tipo de cultura que estamos vendo no mundo, milhares de pessoas acham muito engraçado essas manifestações e nada tenho contra. Brinquei com o Silvano indicando a inclusão, mas sei que ele não vai levar em consideração, manterá a sua linha . Menino nascido no Sítio Cipó em Santana do Ipanema, Técnico em infraestrutura da educação, formado em teologia, poeta, ator, teatrólogo e amante da arte e da cultura de sua terra.

Escreveu os seguintes livros:
Fatos e Relatos – 1988
Morte de um herói – 1996-1998
Santana Afusta de Hoje – 1999
O homem e o Macaco – 2000
O fim do mal – 2001
Poemas de Amor (Não Publicado)
Maria Cipó (Não Publicado)
O pingo do Milagre - 2009-2010

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