DIA DE FEIRA EM SANTANA

Crônicas

Remi Bastos

Hoje 21/01/2012, dia de feira em Santana. Nesse momento, distante dos ares da minha terra, mas com o pensamento plainando nesse céu de tantas nuvens e poucas tormentas sinto-me real. Caminho rumo à feira, estou passando em frente ao Mercado da Farinha ou de cereais próximo a casa dos familiares de Zé Jaime. Diversas bancas no espaços livres expõem aos consumidores os seus produtos, tais como: mamão, laranjas, batata-doce, abóboras, feijão-de-corda, macaxeira, inhame, verduras, etc. Sigo em frente pela antiga Rua do Velande nos fundos da prefeitura, e mais bancas sortidas enfeitam a minha visão. Estou feliz, estou na minha cidade em plena feira ouvindo aquele linguajar típico do sertanejo que se confunde na ressonância da multidão. Lentamente me aproximo da ladeira ali na esquina do antigo Bar de Quiterinha, meu olhar mais uma vez se estende sobre aquele horizonte de feirantes e de pessoas que vão e que vem como se fossem saúvas levando em carrinhos de mãos, “zigzagueando”, os produtos obtidos numa verdadeira acrobacia. Mais adiante o vendedor de óleos, raízes, frutos e folhas terapêuticas revelam em voz alta as curas milagrosas obtidas com a quina-quina, o mororó, o sambacaitá e o óleo de baleia. Estou passando agora por trás do Supermercado Ouro Branco situado à Rua dos Machados, ali onde vivi os meus inocentes e belos cinco anos. Nesse instante me lembrei dos nossos primeiros vizinhos, Seu Aloisio Marques, Seu Valdemar Lins, a Avó do nosso querido Xogoió hoje aposentado pela Milícia Rodoviária do nosso Estado; Seu Sebastião Pacífico, Dona Alcina e Seu Atenor um humilde sapateiro.

Continuando a minha caminhada pela feira desviando-me das barracas e do povo procuro registrar em cada momento toda aquela beleza que eu tanto desfrutei quando menino, enquanto aguardava o meu velho pai com o meu carrinho de mão ao lado da casa onde atualmente está situado o Museu Darras Noya, que paulatinamente trazia as compras. Agora estou passando pela zona nobre da feira, as Tordas da Alimentação e Degustação, situadas nas proximidades da sarjeta que margeia a antiga descaroçadeira ou Usina de Beneficiamento de Algodão de Seu Domício Silva. Alegro-me ao sintonizar a Torda de Dona Ciça com sua comida caseira regada a caninha e uma gelada para quem aprecia. Dona Ciça é uma senhora de respeito que há muitos anos desenvolve o seu comércio hoteleiro na feira de Santana. É sempre lá que encontro alguns amigos com datas marcadas, a exemplo de Ivan Rodrigues, Brito, Zé Roberto, o mano Mitinho, Zé Ialdo Laranjeiras entre outros para esvaziar as energias acumuladas durante a semana ou meses e ouvir os causos de Dr. Ugo. A feira de Santana cresceu muito, o mercado de carne ou “Talho de carne”, conforme Capiá, Ana Agra, Renilce, Terezinha Carvalho e Leôncio soldado ainda costumam chamar, vendem até congelados. Mais adiante se estende o comércio de bolos de mandioca, raízes de imbu, rapadura, os relógios de diversos mostradores, borrachas de soro bom para fazer peteca (baleadeira), e segundo o Cocada são boas de acoite; as barracas de artefatos de couro, tais como, selas, botas, chapéus, cintos, além de acessórios para

vaqueiro: esporas, chocalhos, barbicacho e um punhadinho de facas tipo peixeira ideais para pelar porco e traçar um picadinho de fumo de corda. Passo em frente à Matriz de Santa Ana Padroeira da nossa cidade, lanço o olhar para aquele recanto sagrado onde Seu Sulino costumava exercer a sua habilidade única de retratista e apenas vejo um vazio e uma lembrança de um artista que soube tão bem retratar o sertanejo santanense. Finalmente estou na área das confecções, são inúmeras bancas cada uma procurando vender mais e o melhor. Neste percurso virtual pela feira de Santana, senti falta das tordas de sapato, estabelecimento onde tive a minha primeira experiência como vendedor auxiliando Seu Oscar Porcino (+) na venda de sapatos , botas e a famosa alpercata de pneu, a inesquecível “Xô Boi”.

Infelizmente tenho que retornar, porém, antes de partir gostaria de dizer que escrevi esta crônica ouvindo a Rádio Braguinha, que através de sua nostálgica programação deste sábado foi o veículo da minha inspiração e que me deixou feliz em poder tornar real tudo aquilo me extasia na vontade de ver de novo. Um Feliz final de semana para todos.

Aracaju/SE, 21/01/2012.

Comentários