A CANTADA DE WILSON

Crônicas

José Peixoto Noya

Dona Maria Valério, já falecida, foi proprietária de uma pousada em nossa cidade durante muitos anos. Wilson, considerado como um de seus filhos, ajudava nas tarefas do dia-a-dia. Era uma pessoa bastante conhecida em nossa cidade. Conversador, falava tanto que, às vezes, ninguém entendia o que ele dizia. Na realidade, ainda hoje, apresenta grande dificuldade em concatenar as idéias, contudo, é um ente de muito boa vontade, bastante servidor, educado e pacato.

Há muitos anos, quando ainda era solteiro, resolveu iniciar as suas atividades de conquistador durante a realização de um baile nos salões do Tênis Club Santanense. Começou a se "engraçar" por uma senhorita vinda de outras plagas para aquela reunião dançante. A beleza da moça se sobressaia no baile. Wilson, em conversa com uns amigos (Benga, César "Barboleta", Neto, Germano – de saudosa memória –, Zé Ormindo, entre outros "inocentes"), confessou a sua admiração pela jovem. Manifestando vontade de convidá-la para dançar, pediu orientação ao "seleto" grupo de amigos para saber como deveria proceder para se aproximar da moça.

Não deu outra: Benga, mestre maior na "arte" da conquista, disse: "Wilson, a moça entrou agorinha no toilette. Você se dirige à porta que dá acesso àquele local, espera a sua saída e se declara, dizendo alguma frase que lhe venha à cabeça naquele momento. Garanto que, se você falar direitinho e bem explicado, a jovem vai, com certeza, cair na sua lábia".

Wilson "matutou" algum tempo, como se estivesse pensando alguma coisa bem romântica. De repente levantou os braços, à maneira de quem comemora um gol, e partiu a todo vapor em direção ao sanitário feminino.
Chegou, parou, suspirou e esperou a saída da vítima. Eis que, pouco depois, aparentando estar bastante aliviada, conseqüentemente, muito mais bonita, surge a donzela desconhecida que despertou tanta paixão no nosso conquistador de primeira viagem. Ele não contou conversa: encheu os dois "foles" de ar e pronunciou a frase mais bonita e ensaiada da sua curta vida de galanteador: "Tava cagando, né? Agora vamos dançar!".

Wilson não conseguiu a tão esperada dança e ainda teve que ouvir uns impropérios, que não iremos publicar em respeito ao leitor.

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