Nos idos de 1957 nossa família transferiu-se, de forma definitiva, do Riacho Grande para Santana do Ipanema. Na época, a sensação das tardes de domingo eram os jogos do nosso glorioso Ipanema Atlético Clube. Faziam parte da equipe vários jogadores de extrema habilidade que, se existissem nos dias de hoje, certamente estariam atuando em centros futebolísticos mais desenvolvidos. Podemos citar alguns nomes como o goleiro Biongo, Miguel Chagas, “Nego” Fusco, Izaías Becão – pai de Biruta –, os irmãos Alípio e Índio, além do João Pontes – estes oriundos da nação fulni-ô –, Sapateiro, Diógenes Alfaiate, “Nego” Dézio, Zé Galego , João Farias, Sebastião Amaral , entre outros.
Maria Helena, minha querida mana, então no fulgor de sua adolescência e no esplendor de sua beleza, era alvo certo dos galanteios dos mancebos de plantão. Zé Chagas – tio de João do Mato e de Zé Ormindo, – sempre gracejador e espirituoso, tinha o hábito de me chamar de cunhado, com o intuito de me ver irritado, o que não passava de uma simples brincadeira, pois ele já estava com certa idade e não era mais páreo para abordar minha mana. O tempo se encarregou de me fazer perceber que ele queria apenas me atazanar, tanto é que, apesar da diferença etária, formamos uma sólida amizade que perdura até hoje.
Mudando o rumo da prosa, passo a comentar a razão de todas as elocuções ditas até agora. Jogava o Ipanema contra o CSA da capital quando em determinado momento Dézio recebe uma bola no meio do campo, avança, dribla o lateral esquerdo e o zagueiro central, passa pelo goleiro e, diante do gol aberto, chuta prá fora. Zé Chagas indignado com a incompetência do atacante exclama:
- Deixe de ser burro, “nego” corno!
Dézio, sentindo-se ofendido, vai até a beira do alambrado, onde estava o
‘insultador’, e esbraveja:
- Zé Chagas você me respeite porque posso não me responsabilizar pelos meus
atos.
Em seguida Zé Chagas rebateu:
- Deixe de atrevimento se não hoje não vou dormir com sua mãe.
Daí entrou a turma do “deixa disso” e os ânimos foram serenados. Esse diálogo ríspido entre os dois só aconteceu por conta do calor do momento, pois eles eram grandes amigos e parceiros e continuaram sendo até a morte do excelente ponteiro direito.
CAPIÁ-Recife-agosto/2006
História publicada em 06/04/06
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