Jacaré dos Homens, conforme consta do nome, é uma autêntica terra de homens de bem. Vez por outra a gente se depara por lá com um “cabinha de peia”, mas isso é normal em qualquer comunidade. Como sertanejo desassombrado, foi lá no distrito de Samambaia – reduto da família Silva – que enfrentei “os homi” e fui buscar Maria, minha mulher, com quem convivo há vinte e cinco anos, ao lado de nossos filhos Maria Luíza e Jorge Luiz, razões maiores de nossa existência. Valdir Cajé é um jacarezeiro da melhor qualidade. Prefeito por duas oportunidades e meu amigo de longas datas. Como um legítimo contador de “causos”, sempre que nos encontramos ele me aborda com uma história picaresca na “ponta da agulha”. Entretanto, o conto que vem a seguir teve como protagonista o próprio Valdir.
Em uma das oportunidades em que foi prefeito, ele foi convidado para participar de um encontro de prefeitos, a nível nacional, em Belo Horizonte. Na viagem de volta ele ficou, por longo tempo, “impaiado” no aeroporto da Pampulha, por conta de atraso no vôo da capital mineira para Maceió. Daí aconteceu o vexame, passado por nosso focalizado. Impaciente pela demora, o Valdir começou a “dar voltas” pelo saguão quando, em determinado momento, se deparou com um cidadão de fisionomia conhecida. Ameaçou cumprimentá-lo, mas o receio o fez recuar da idéia. Continuou fazendo seu forçado e maçante passeio e sempre que se deparava com a familiar figura havia – como podemos dizer – uma “operação reconhecimento”. Depois de vários “encontros”, Valdir perdeu a paciência e se dirigiu ao desconhecido com a seguinte indagação:
- desculpe a intromissão, mas sua fisionomia não é estranha e acho que conheço você de algum lugar.
O misterioso cavalheiro respondeu, com a voz gaguejante: - com certeza você me conhece, através do rádio, do cinema, da televisão, dos jornais, das revistas e, acredito, você deve ter alguns dos meus LPs (ainda não era da época do CD) e arrematou:
- Eu sou Nelson Gonçalves.
CAPIÁ-Recife-ago/2006
História publicada em 14/08/2006
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