Vicente Vieira é uma daquelas pessoas que conhecemos ao longo da vida e que sentimos orgulho de privar de sua amizade. Dividimos tarefas no Banco do Brasil durante meus últimos 16 anos de labuta, até a minha aposentadoria. Por ser ele de uma geração mais recente, ainda continua em plena atividade. Cearense do
Crato e, como todo matuto sertanejo que se preza, é um extraordinário contador de “causos”.
Conta ele que um fazendeiro cratense mandou um de seus filhos estudar em Fortaleza porque, na época, somente nas capitais existiam cursos de nível superior. Ter um doutor na família era uma condição primordial.
Para orgulho de todos, principalmente da sua genitora, uma autêntica mãe-coruja, o jovem cumpriu sua missão e, após conclusão do curso, retornou à terra natal com o título de bacharel em Direito. Um escritório foi
instalado no centro da cidade, para o jovem causídico iniciar sua vida profissional.
Determinado dia, uma senhora da alta sociedade cratense, estava passeando com sua cadelinha de estimação, de raça nobre, quando, como por encanto, apareceu um vira latas que, num passe de mágica, deu uma abordagem romântica na cachorrinha e chegou às vias de fato, para o desespero da proprietária. Muita
aflita, a madame procurou o escritório do referido advogado concitando-o a mover um processo contra o proprietário do galante animal, para que fosse reparada a ignomínia praticada contra a inditosa cadelinha.
As providências judiciais foram tomadas e a audiência foi marcada.. Na data aprazada, uma tremenda decepção. O juiz deu o caso por encerrado por não ver motivo suficiente para indiciar o pretenso culpado, porque achou o idílio canino um acontecimento normal, próprio do reino animal. O defensor principiante, por sua vez, teve uma dupla derrota, pois além de perder a causa teve ainda que carregar, pelo resto da vida, a pecha de advogado de cu de cachorro.
CAPIÁ-Recife-nov/2005
História Publicada em 03/09/2006
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