GIRA-MUNDO

Crônicas

Fábio Campos

Santanense que se preze, conhece as ruas de Santana. E quando eu falo em conhecer as ruas de Santana, não me refiro apenas aonde à rua se localiza, ou aos nomes que elas têm hoje.Mas aos nomes de antigamente também. Rua Benedito Melo, por exemplo, era a antiga rua Nova. Santana tem a rua do Sebo, rua da Poeira, rua de Zé Quirino, rua da Praia, rua do Velame, rua Zé Amorim e a rua da Gandaia, e por aí vai. Santanense que se preze conhece também os seus “Pontos Turísticos”: Conhece o Alto da Fé, A Serra da Micro-Ondas! O Alto do Cruzeiro, A Igrejinha do Lagedo Grande, a de Bebedouro e a de Senhora Assunção! O Cachimbo Eterno, a Floresta e onde era o Defuntão. O riacho do Bode, A Baraúna e a Camoxinga. Santanense que se preze conhece também os Pontos tradicionais : A praça São Pedro, dos jogos de dominó e do Bar de Erásmo, a praça do Monumento e o “Senadinho”, a praça Manuel Rodrigues da Rocha e Senador Enéas Araújo, praça Frei Damião e tem muito mais. Santanense que se preze conhece os doidos de hoje e os de antigamente: Natalício Têi Têi, Sulino Preto, Justino(Barba-Azul), Zé Doidinho, Django das Biatas, Cinco Minutos,Propício(Peru Bacheiro!), Capiá, Alegria, Vicença, e Ivaldo Cuiu-iuí! Santanense que se preze conhece os bares Tradicionais: Bar do Charque, Bar da Buchada, Bar de Seu Lula ( irmão de Jorge “Cara de Ralo”), Bar Comercial, do meu amigo Mario Pacífico, o melhor cuscuz com bode da cidade! Acompanhado é claro de umas boas doses de Pitú! Santanense que se preze conhece GIRA-MUNDO! “GIRA” pra os mais íntimos! É uma figura! Se o espírito não me engana, é filho da saudosa Chica Boa, retratada em outra ocasião por outro cronista. Se mesmo assim, caro leitor, não deu ainda para ligar o nome à pessoa, você com certeza é da nova geração, então vou descrevê-lo melhor. Ele anda pelas ruas de Santana e das cidades circunvizinhas (em dia de feira livre), com uma máquina de engraxar carro.Vive disso. Sempre vestido num macacão negro, encardido, totalmente impregnado de óleos e lubrificantes. Figura esguia, cabeça achatada, pele curtida pelo sol. Um sertanejo. Sempre alegre e brincalhão! Assim é GIRA-MUNDO. Numa dessas noites nostálgicas em que Santana nos convida a passear e a olhar suas ruas, suas praças, olhar sua gente, olhar seu luar. Vinha eu, ali perto da ponte do padre, onde vários quiosques se agrupam (os mosqueiros. Vou no popular: os “pega-bêbo”). E o que vejo: GIRA-MUNDO alterado com o dono de um botequim, os dois já em vias de trocarem tapas. Por ironia do destino o nome do boteco era “Barraco da Paz”, tendo inclusive para atestar o título uma imagem do Padre Cícero na prateleira, cheia de fitinhas coloridas, junto com as garrafas de Pitú e um copo com um galho de arruda dentro, pra espantar maus-olhados. Nisso vai passando o camburão da Polícia. E os policiais. E como já andam em busca dessas coisas mesmo. Já vão parando, descendo e pegando GIRA-MUNDO pelo colarinho do seu surrado Macacão. Ao que ele, suspenso do chão. Profere o seguinte Discurso: -Seu Dôtor Delegado, pode me prender! Não tem “poblema”, pois eu: Andando de camburão tô viajando! Estando preso tô hospedado! Apanhando tô fazendo exercício! Passando fome tô fazendo regime! E já dentro do camburão, complementa: - Toca esse enterro pra frente! E foi curtir sua cachaça guardadinho no xilindró.


S. Ipanema- AL 07/10/2006

Crônica publicada em 03/12/2006

Comentários