Trabalhei na Casa Ideal – loja de calçados de "seu" Marinheiro" – no período de outubro de 1959 a janeiro de 1965, e somente saí de lá para ingressar no Banco do Brasil, onde permaneci até minha aposentadoria em 1993. Naquela época existia um "senadinho", integrado por cidadãos que formavam a elite do comércio santanense, como Manoel Rodrigues do Amaral ("seu" Marinheiro), Ulisses Silva, meu padrinho Doroteu Chagas, Fernando Nepomuceno Marques, Izaías Vieira Rego, Ademar Medeiros, o Maestro Miguel Bulhões, Tibúrcio Medeiros, Bartolomeu Barros, entre outros que me fogem à memória. O ponto de encontro era, todas as tardes, no Bar de Maneca que se localizava nas imediações do Cine Alvorada, onde funciona atualmente uma igreja. O proprietário do bar era um cidadão sério, calmo, de voz pausada, quase inaudível. Em contrapartida ao seu comportamento cavalheiresco, ele demonstrava uma atitude estranhamente paradoxal, quando chegava em seu estabelecimento um freguês que não lhe conviesse. Ele se tornava áspero e mau humorado, a ponto de, vez por outra, serem observados diálogos ríspidos, como por exemplo:
Freguês: - Maneca, tem cafezinho?
Ele, sem arredar da cadeira onde estava sentado, respondia de forma grosseira:
- tem, mas não tem quem despache.
Normalmente o interlocutor entendia e "saía de fininho".
Todavia, numa determinada ocasião, chegou um desses "clientes" indesejáveis e pediu um cafezinho. O proprietário se levantou para atender ao pedido, enquanto o freguês ficou à mesa, "atirando" na boca várias colheradas de açúcar. Maneca serviu o cafezinho e, para o espanto do solicitante, retirou o açucareiro da mesa, quando o "prejudicado" estranhou a atitude e disparou:
- Maneca traga o açúcar?
Ele respondeu:
- o açúcar você já comeu. Agora beba o café e fique balançando até ele dissolver.
Recife-out/2006
Crônica publicada em 08/10/2006
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