Quem viveu nos anos 70 em Santana do Ipanema, principalmente no bairro monumento.Quem teve parte da infância e juventude vividos, freqüentando a Praça da Bandeira (também chamada de Praça Dom Fernando Medeiros ou a popular Praça do Ginásio). É aquela mesma Sim! Aquela que tem a Igrejinha de Senhora Assunção! Com certeza deve lembrar da mercearia de seu João Soares que ficava por trás da toca. Seu João Soares era meu pai. Figura de singular qualidades.Pessoa de temperamento muito marcante.Austéro.Gostava de prosear apenas com o seu grupo de amigos. E de brincadeiras somente com aqueles que já conhecia, ou fizesse parte do seu seleto mundo ou com ele convivesse. Certa feita um freguês “inesperado” lhe aplicou um golpe chamado de “Coice da burra”. O golpe consistia do seguinte: o cara pedia uma mercadoria qualquer, uma carteira de cigarro, e dava uma nota de 100 reais, por exemplo, quando o dono do estabelecimento vem com o cigarro e o troco.O larápio aplicava o golpe dizendo: - Tá, eu tinha dinheiro trocado! Daí segura o troco que já está na sua mão e ainda resgatava sua nota de R$ 100! Além de ficar com o cigarro de graça, é claro! Se aproveitando do fator surpresa com que é pego o desavisado mercador. O fator surpresa associado à rapidez e agilidade do meliante,é o que leva a pessoa a cair no golpe e ao sucesso do aplicador! Ao se aperceber do ocorrido meu pai, saiu no encalço do falsante. Embora sem lograr êxito na empreitada. Neste dia ele não se assussegou. Nem o fato de saber que o mesmo gatuno aplicara o golpe em diversos comerciantes neste mesmo dia o fez se sentir mais conformado. Para não terminar esta narrativa de forma tão melancólica quero ilustrá-la narrando outra peripécia que ocorreu com papai mais ou menos na mesma época. Onde hoje é a casa da mãe de Benga (Alberto): Dona Maria Ourives funcionava a agência de ônibus. De modo que quando chegava ônibus os passageiros procuravam a mercearia de “seu” João para fazer lanche e etc. Em um dia como esse, papai se aprontava para ir de ônibus até Palmeira dos Índios ocupou seu lugar no coletivo e aguardou o início da viagem. Os passageiros começaram a ocupar seus lugares. O passageiro que se acomodou na poltrona vizinha a de papai, se achando o cara mais esperto do mundo. Puxou a seguinte conversa com o velho: - Imagine o senhor que eu lanchei naquela mercearia, pedi uma carteira de cigarro e a coitada da mulher que atendia estava tão atordoada com tantos fregueses apressados para viajar que “esqueceu” de receber a minha despesa! Bem azar o dela não é “seu” Zé?...Ao que papai prontamente retrucou:-Azar coisa nenhuma! Aquele estabelecimento comercial é meu, a senhora que lhe despachou é minha esposa. Faça-me o favor de pagar o que me deve!...Nem preciso dizer que o cara foi daqui até Palmeira dos Índios sem dar uma palavra.
S. Ipanema-AL 20/09/2006
Crônica publicada em 16/10/2006
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