Enquanto esboçava este artigo sobre a proximidade do Natal de Jesus e o significado maior do símbolo que exalta o nascimento do Cristo ecumênico na Terra – extraordinária época para se refletir a respeito da verdadeira expansão da fraternidade nos outros 364 dias do ano – o presidente Lula discursava em Copenhague, na fase decisiva da Conferência da ONU referente às mudanças climáticas.
Em seu breve e incisivo pronunciamento, ele voltou a cobrar dos países desenvolvidos a apresentação de metas mais ousadas de redução nas emissões de gases de efeito estufa. Aproveitou o ensejo e vinculou o tema às questões sociais: “A mudança do clima é um dos problemas mais graves que enfrenta a Humanidade. Controlar o aquecimento global é fundamental para proteger o meio ambiente, permitir o crescimento econômico e superar a exclusão social”. Disse mais: “(...) Aqui em Copenhague não há lugar para conformismo. (...) Quero falar com toda a clareza e franqueza. Esta Conferência não é um jogo em que se possa esconder cartas na manga. Se ficarmos à espera do lance de nossos parceiros, podemos descobrir que é tarde demais. Todos seremos perdedores. (...) O Brasil dispõe de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Oitenta e cinco por cento de nossa energia elétrica é de origem hídrica. Quarenta e sete por cento do total de nossa energia é renovável. Fomos pioneiros na produção e uso generalizado de biocombustíveis”.
Necessário esclarecer que estou escrevendo no penúltimo dia da COP15. Se bem que acho pouco provável alguma mudança expressiva diante daquilo que vem sendo apresentado no país escandinavo. Aliás, a analogia que se pode fazer entre a mensagem natalina e o futuro do planeta é assunto interessante e oportuno.
FALTA ESPÍRITO SOLIDÁRIO
A palavra do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na terça-feira, 15/12, não permite dúvida: “Esta é a hora de parar a troca de acusações. É hora de começar a olhar no espelho e oferecer o que eles podem fazer a mais, tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento”.
DO DISCURSO À AÇÃO
As chances de surgir um acordo vinculante (de cumprimento obrigatório) na redução de CO2 e outros gases são remotas. Contudo, mantemos a esperança de que haja algum entendimento. Por ora, vale ressaltar as iniciativas nas várias esferas de nosso governo para contribuir na diminuição desses elementos venenosos.
Num excelente texto publicado em 13/12, no O Estado de S. Paulo, a ministra da Casa Civil e chefe da delegação brasileira na COP15, Dilma Rousseff, esclareceu que “(...) o Brasil deixou de ser parte do problema do aquecimento global para se tornar respeitado como impulsionador de soluções negociadas. Temos a matriz energética mais limpa e renovável entre as maiores economias do mundo. Usinas hidrelétricas, biocombustíveis e outras fontes renováveis respondem por 45,9% de toda a energia consumida no Brasil. (...) Nossa matriz energética limpa não caiu do céu. É o resultado do esforço de gerações na construção de usinas hidrelétricas e na produção de combustíveis renováveis. (...) Nos últimos 30 anos, a utilização de etanol combustível, anidro ou hidratado, evitou a emissão de mais de 850 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera”.
Tanto o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, quanto o governador de São Paulo, José Serra, defenderam em Copenhague o potencial do etanol brasileiro como fonte de energia limpa. “A nossa ideia é que o mundo adote a utilização de 10% de etanol no litro da gasolina, o que representaria um avanço enorme e factível num horizonte de 10 a 15 anos. Isso implica quadruplicar a produção. O Brasil estaria na liderança. Isto teria um desempenho importantíssimo no emprego e renda de países pobres”, explicou Serra.
CIDADÃO DO PLANETA
Que o exemplo-mor do Divino Mestre inspire toda a Humanidade na busca de soluções para o problema ambiental de nosso tão sofrido orbe, pois o Natal simboliza o nascimento, o ressurgir da alegria em nossa vida. Daí desejarmos a todos um Feliz Natal Permanente de Jesus. O Cristo Ecumênico, Cidadão do Planeta, trabalhou pela Solidariedade, pelo bem dos povos. Ele nos legou uma palavra de Paz, a estrutura de um mundo renovado: “Novo Mandamento: Amai-vos como Eu vos amei. (...) Não há maior Amor do que doar a própria Vida pelos seus amigos” (Evangelho segundo João, 13:34 e 15:13). É sob essa augusta vibração de Fraternidade sem fronteiras que expressamos nossos votos de que todos se apercebam disso: somente unidos e conscientes de nossa potencialidade, poderemos reverter essa situação aparentemente sem saída.
José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
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