O FORRÓ DA FEIRA DA FARINHA

Marcas do Passado

Remi Bastos

Mês de julho em Santana significa festa e reencontro. Lembro-me dos festejos de Senhora Santana anos atrás, principalmente as duas últimas noites quando a cidade se transformava num coliseu da dança. Além dos
bailes no Tênis Clube onde o rigor e a disciplina faziam parte do cardápio das exigências de seus dirigentes, os santanenses mais assanhados buscavam no forró uma forma de divertimento. No entanto, o mais famoso era o Forro da Feira da Farinha, bem ali em frente ao mercado de carne.

Por cinco ou seis anos prestigiei aquela casa improvisada de dança juntamente com os amigos, Terezão, Motorzinho, Reginaldo, Sílvio Galindo, Miguel da Barriguda e seu filho Paulinho. Geralmente o porteiro era Gilson Saraiva ou Gilson Alfaiate que se encarregava de cobrar a entrada ao recinto. Por volta das vinte e três horas o salão já estava lotado com damas e cavalheiros, todos maus intencionados. Vez por outra fazíamos uma parada na barraca de Bordado para degustar uma caninha com sarapatel ou coxinha de galinha e em seguida retornávamos ao forró bem alimentados. Durante a noite chegávamos a fazer umas quinze visitas a barraca do Bordado. A noite era longa e gostosa, cada um com sua “pareia” procurava dar o máximo,tanto em cima quanto em baixo. Os sucessos da época se mesclavam com as músicas de Ary Lobo e Jackson do Pandeiro. Que briga é aquela que vem acolá?/É a mulher do Aniba e o Zé do andar. Eu vou pra lua/Mamãe eu vou morar lá... Eram com essas músicas gostosas que entrávamos pela madrugada arrastando o pé no forró da feira da farinha. Vez por outra Miguel da Barriguda topava em Paulinho, bunda com bunda, eu que estava nas imediações dizia, Miguel, Paulinho ao seu lado! E a resposta era esta, ”tem nada não, é festa em família”, e soltava aquela risada típica da sem-vergonhice. Terezão e Motorzinho cada um com sua baixinha, dançavam com a cabeça enfiada no cangote de suas damas, recebendo aquele cheiro de fulô da maravilha que subia de suas costas. Enquanto Sílvio e Reginaldo passavam a noite inteira despachando na barraca de Bordado, só apareciam no final da festa com a seguinte ordem da manhã... “Não vamos parar, temos um tubo de Mucuri para a gente detonar na Pracinha do Monumento vendo os bestas saindo do Tênis”. Palavras de Sílvio e Reginaldo.

Nossos bons momentos foram aqueles que soubemos aproveitar, apenas levados pelo desejo de ser feliz. Hoje já não temos mais em nossos momentos Miguel da Barriguda e Terezão, mas, de uma coisa temos certeza de que tudo aquilo que fizemos em nossas juventudes, não tinha os sabores nefastos da juventude perversa de hoje. O meu eterno carinho a esses e outros amigos que entre tantas brincadeiras, participaram comigo do Forró da Feira da Farinha.


Aracaju, 04/10/2009.

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