JOÃO BARBOSA FILHO! É O SEU MESTRE...

Crônicas

José Peixoto Noya

Magro, alto, corpo curvado para baixo. Era assim o perfil de João Barbosa Filho. Carpinteiro, dizem, os que com ele conviveram quando ainda praticava a profissão de José, que era um excelente profissional.
Quando o conheci já estava entregue aos prazeres etílicos, com tudo que tinha direito, e o fazia diariamente na bodega de Oséias, filho de “Seu” Artur Alencar, conhecido por todos como Artur “coxo”, em virtude de um problema de nascença em uma de suas pernas. Era uma baiúca que ficava onde hoje existe uma sorveteria, vizinha à residência da família de “Seu” Aníbal, em frente à Rede Farma.
Todas as vezes que ele se despedia das suas “obrigações”, saia em direção à sua residência que ficava em frente ao Tênis Clube Santanense. Era uma casa pequena, de um só cômodo.
Para lá seguia cambaleando: “um pé no mato, outro no caminho”. E, pior, quando o vento estava soprando forte, andava mais com o pé no mato do que no caminho. Mas, sempre conseguia chegar à sua casa, conversando com ele mesmo, sem que ninguém soubesse o que dizia. Apenas quando encontrava alguém em sua frente – conhecido ou não – colocava a mão na testa como se prestasse continência e dizia: “João Barbosa Filho é o seu mestre...”
Uma das vezes chegou em casa e se surpreendeu com dois personagens, para ele desconhecidos, que se encontravam dentro do seu casebre. Deitado, um elefante. Na parede, uma lagartixa.
Mais tarde ele contava que o elefante era mansinho. Já a lagartixa era brava que dava gosto. Teve de passar a noite toda chutando a danada e a mesma não parava de atanazar por causa do pouco espaço. Se a lagartixa se sentia espremida dentro daquele cômodo, calcule o elefante. De manhã João estava com os dedos dos pés todos em petição de miséria, esfolados. E o elefante, tranquilo que era uma beleza, nem estava aí.
Vez por outra esses visitantes apareciam em sua casa. Ele foi encucando com isto, até que certa vez, retornando de sua “via crucis”, ao tentar adentrar à sua residência recebeu um tapa. Um não, dois, de dois “neguinhos”, que ele também não conhecia.   Foi recebendo os tabefes e indo a lona: nocaute em primeiro round. Estas sessões de tapas duraram muito tempo, até que um dia, ele mesmo confessou, resolveu parar de ingerir aquelas “rinchonas” que Oséias receitava. Pronto foi tiro e queda, nunca mais o elefante, a lagartixa, e muito menos os dois “neguinhos” apareceram.
                Passou o resto de sua vida sóbrio, mas sempre carregando nas costas o apelido com que algum maldoso o presenteara: João Cachaça. Talvez por isto andasse vergado. Passou a dedicar-se, inteiramente, a torcer pelo seu clube de futebol do coração, o Ipanema, naquela época um senhor time. Já hoje, ao ver seu querido Ipanema como anda, tenho a certeza de que desejaria a volta de todos aqueles personagens da época do “delirius tremus”.

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