POEMA AO MEU PAI JOSÉ RICARDO SOBRINHO

Poemas

Maria do Socorro Ricardo

O relógio sempre lento,
Sempre lerdo, sempre perto.
Vi o Diário e li Santa Catarina.
A florista do filme de Carlitos
Jovem e simpática.
Vi o sapateiro da esquina
Fechar a caixa de trabalho.
Os pés rápidos nas calçadas.
Só os ponteiros do relógio
No infinito se emperraram.
As luzes se acenderam.
As luzes se apagaram.
Na colmeia a abelha
Tecia o seu salário.
Só do olho do mosquito
Se enxerga o infinito,
Com as coisas mais
Dessas imprestáveis do universo
Se constroem satélites e anos-luz.
Esperei um ano-luz de relógio.
Esperei você
No lugar marcado.
Tomei a Consolação
Fui-me embora no Rosário.

A tristeza se acabou
(agora)
é tempo de poemar
(agora)
é só uma fotografia
emoldurada, quieta
e pensa na parede
(agora)
a tristeza se acabou
uma foto na parede
nos olhos de um inseto
há mais
verdades e segredos.

E o verbo se fez poesia.

Este é um poema. Minha poesia?
Faço-a de utensílios, de sons,
Desses encontrados na soleira.
Como é amplo de sol o meu jardim.
E a voz das amêndoas: nas ruas
As formigas são mais políticas.
Dentro da amêndoa do licuri:
Passo, aí, depois do almoço
(todo arquétipo é arquetípico?)
quando o sol já estiver posto
entre os julhos e os agostos.

Eu Tu Ele Nós Vós Eles

Eu poesia
Tu poesias
Ele poesiar
Nós poesiamos
Vós poesiastes
Eles poesiam
a rua da escritora

Volto a ter a vida
Feliz que sempre tive
E quando chove
Que barulho em minha alma
Os pingos são palavras
Que preenchem vazios na terra
E cada letra tem a sua cor
Rimbaud só conhecia as vogais
Quão as vozes dos pássaros
Volto a ter a vida
Feliz como sempre tive

E quando esfria
Todas as nuanças e matizes
Colorem os quadros
As ruas silenciam (o que dizem?).
E quando é sol
Volto a ter a vida
Feliz que sempre tive.

Um quadro na parede
É só um quadro.
Um carro nesta rua
É só um carro
E não um desperdício.
Os pingos são palavras
Que engordam os vazios.

SOBRE A ESCRITORA SANTANENSE Maria do Socorro Ricardo: Misael Farias (segundo prefeito de Santana do Ipanema, tendo ocupado a cadeira do Poder Executivo no período Vargas, após Manoel Marques, primeiro prefeito de Santana do Ipanema, pai de Adeildo Marques que foi mais de uma vez prefeito), Misael casou-se com Júlia Barros, filha do município de Viçosa, que passou a ser Farias, deles nasceram Estellita Barros Farias, Maria Eulália Barros Farias, Aristéia Barros Farias que, casada com Zeca (José Vieira Ricardo) ficou Aristéia Farias Vieira; e a caçula de Misael e Júlia, Iluminata Barros Farias que, casada com maestro José Ricardo Sobrinho (primo de José Vieira Ricardo), ficou Lu Farias Ricardo. O maestro era filho de Aprígio Ricardo e Maria Vieira Ricardo. De Lu e Zé Ricardo nasceram seis filhos dos quais a escritora santanense Maria do Socorro Ricardo.

Comentários