BETINHA DE SEU JOÃO DA PEDRA

Crônicas

Lúcia Nobre

Betinha, filha de seu João da Pedra e dona Valdomira, era nossa vizinha lá em Santana. Morava com seus pais e Romana, uma moça que ajudava no serviço da casa. Sua irmã, Maria da Pedra, era casada com Maneca e moravam em outra casa, ali mesmo na cidade. Betinha era uma jovem alta, bonita e simpática. Gostava de ajudar as pessoas.

Mamãe, jovem senhora, costureira, aceitava ajuda das vizinhas, como auxiliares nas costuras, principalmente em tempos de festas. Ficavam todas na sala em altas conversas, e ali passavam à tarde. Entre as mais jovens, também ajudavam as jovens senhoras e comadres, dona Hilda Rêgo, dona Marieta Barros e dona Marihinha de seu Marinheiro. As jovens senhoritas eram Betinha, Socorro Melo, Aparecida Freire, Vanúzia, Vanda e Vileide Rodrigues, Vanda e Vânia, Quitéria, irmã de Val e outras.

Minha irmã Fátima era bem magrinha, e naquela época, os pais não queriam os filhos abaixo do peso, faziam tudo até que esses aumentassem uns quilos a mais. Betinha encontrou a solução para o caso. Sua amiga Valderez, irmã de Linda, era casada com um médico e morava em Pão de Açúcar. Combinaram, ela e mamãe que Fátima ia se consultar com o médico, lá em Pão de Açúcar. Ficou tudo acertado para segunda-feira, logo cedo, partirmos para a cidade vizinha, a procura de salvação para a menina que não queria se alimentar.

Digo partirmos, porque eu como irmã mais velha, seria a acompanhante da irmã mais nova. Lembro-me muito bem que esse foi o dia em que eu rezei mais ave- marias em minha vida. Fomos elegantemente arrumadas pegar o transporte, Betinha, dona Valdomira, Fátima e eu. Elas, na boléia do caminhão de seu José Cirilo e eu, como não havia mais vaga, segundo elas, fui atrás, junto com os feirantes. Todos iam com mercadorias para negociar em Pão de Açúcar, era dia de feira.

O pior de tudo era a carreira do caminhão, tentando ultrapassar o outro da estrada. Parece que os motoristas dos caminhões estavam apostando corrida. Quanto mais corria eu me apavorava, ali sozinha, entre aqueles trabalhadores eufóricos com a competição. Quanto mais eu rezava, mais o caminhão corria e os homens gritavam: corre! Corre! A minha salvação foi rezar as ave- marias.

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