ENTRE O REAL E O IMAGINÁRIO, ESTOU EU

Pe. José Neto de França

Desde criança, num primeiro momento, de forma mais instintiva, em função da carência de conhecimento, na ânsia de “sobreviver”, aprendi a trabalhar sobre mim mesmo, explorando o meu próprio potencial. Uma das formas utilizadas foi a introspecção. Foi assim que “conheci” e fiz minha primeira amizade: eu mesmo.

Entrando no meu mundo interior, criei amizades, vivi aventuras que seria impossível de vivê-las no mundo real, ultrapassei espaço, tempo... viajei e ainda sou capaz de viajar ao passado e ao futuro... Fui hora amigo, hora inimigo de mim mesmo. Fui ator, coadjuvante, artista, bandido... Encontrei-me com o sobrenatural de uma forma que só eu poderia encontrá-lo; subjuguei-o.

Nesse processo cognitivo, forçado ou natural, erigi meu ser e suas múltiplas faces. Logicamente que sou o que sou, mas aprendi a me adaptar com muita facilidade a qualquer ambiente, “criando” personagens que seja adaptado ao momento vivido. Não se trata aqui de dupla ou múltipla personalidade, pois isso já seria uma questão psiquiátrica. Trata-se, apenas e tão somente de uma capacidade de adaptação que desenvolvi, para utilizá-la sempre que necessário, objetivando apaziguar sentimentos e harmonizar a convivência com quem quer que seja e onde quer que possa estar.

Essa técnica me ajudou e ainda me ajuda muito a superar obstáculos, pois diante de desafios significativos, projeto-me num tempo posterior onde imagino vivenciar os frutos da vitória do que atualmente enfrento... Por incrível que pareça, o grau de dificuldade do que eu esteja enfrentando no presente é atenuado, aumentando a possibilidade de superação. Isso funciona como uma grande motivação, pois me ajuda a perseverar no que quero.

O inverso também é interessante. Quando sinto que algo pode ser um problema futuro, igualmente mergulho no meu imaginário, só que procurando “vivenciar” os reflexos do mal que tal coisa poderia me causar, ou mesmo respingar nos outros com quem convivo no dia a dia. Esse “vivenciar” não é um sentimento masoquista, mas uma forma de sentir o peso de um ato errado que possa cometer voluntariamente colocando a minha vida ou a dos outros em risco. Como fruto, adquiro uma motivação saudável para evitar o que me possa causar dano. Logicamente que nesse processo tenho que tomar muito cuidado para não somatizar esse “vivenciar”.

Algo interessante é o esforço que tenho que fazer para não confundir ou misturar o imaginário com o real; ou ainda demorar-me mais no imaginário, correndo o risco de perder meu senso crítico. Tudo tem que ser bem dosado, senão acabo ficando como diz um velho ditado: “sem o mel e sem a cabaça”!

Em síntese, no limiar do real e do imaginário vivo eu, hora tendo saudades do passado que se foi e até do futuro que ainda nem se concretizou! Hora levo a vida, hora, voluntariamente, deixo a vida me levar...

Enigmas da vida!!!

[Pe. José Neto de França]

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