Na minha casa, a música era mais do que um som de fundo; era parte do próprio ar que respirávamos. Desde cedo, cada canto ressoava com melodias que se tornaram memórias, tanto no rádio sintonizado na voz rouca de um velho cantor ou no desgastado cavaquinho que meu pai ainda conservava no guarda-roupa e que, de vez em quando, dedilhava recordando antigas canções.
A música não era luxo, mas sim linguagem, um fio invisível que costurava nossos dias e nos ensinava, sem que percebêssemos, sobre emoção, ritmo e pertencimento. Foi assim que, sem necessidade de grandes discursos, aprendi que o acesso à música desde a infância não foi apenas entretenimento, era um passaporte para entender o mundo e a nós mesmos.
Conhecer as canções de Taiguara(1945-1996) ainda na adolescência para mim foi deveras desconcertante. Com lirismo refinado e uma coragem incontestável, ele transformou sua arte em instrumento de resistência, enfrentando censuras e deixando um legado que transcende gerações. Uruguaio de nascimento e brasileiro de coração cujo nome, em tupi-guarani, significa “livre”, deixou-nos um repertório rebuscado e poético. Filho de Ubirajara Silva, maestro e bandoneonista e Olga Chalar, cantora de tango.
Uma das mais belas vozes, pianista exímio, letrista romântico, libertário, ancorado no realismo esperançoso. Sua poesia permeia a melancolia, ao mesmo tempo em que predomina a resiliência de quem acredita na força das palavras que rompe a aurora fazendo cada dia novo. Era como ter um irmão mais velho que fazia discursos contundentes ao cantar. Embora ainda me faltasse a compreensão, ouvir suas canções era um alento poderoso com a força de acalmar um inquieto coração juvenil.
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Há um sol nascente avermelhando o céu escuro ( Memórias Musicais - parte II - Taiguara )
LiteraturaPor João Neto Félix Mendes - www.apensocomgrifo.com 30/04/2025 - 09h 26min Reprodução www.apensocomgrifo.com

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