JALISCO, JEB E LEO

José de Melo Carvalho

JALISCO, JEB E LEO
José de Melo Carvalho
Em nossa época de jovens, também nossa turma gostava de assistir a filmes e seriados, quase sempre aos domingos. Éramos todos cinéfilos. Os preferidos, filmes e seriados, eram do gênero western, ou faroeste, como assim eram chamados aqui no Brasil. Essa produção de filmes americanos conseguiu adeptos e fãs em grande parte do mundo, ao longo de décadas.
Era a época das conquistas das terras bravias, inexploradas, do velho oeste americano, com caravanas de famílias, homens da lei nas cidades que foram sendo formadas, diligências, instalações de salons, aquelas brigas de socos e pesadas, duelos, muito uísque, tiros e índios. Paralelamente, os bandidos atormentavam os habitantes daqueles insólitos lugares.
Tudo aquilo nos deixava animados, contentes, fascinados. Para todos nós, porém, o mais difícil: faltava-nos dinheiro para as entradas no cinema de Seu Tibúrcio e Dona Adelina, que costumavam beliscar as mãos dos garotos que pediam entrada grátis.
Os grandes mocinhos eram Jesse James, Billy the Kid, o notável homem da Lei Wyatt Earp, Gary Cooper, Randolfo Scott, John Waine, Audie Murphy, George Montgomery, Durango Kid, Roy Rogers e tantos outros. Ainda hoje gosto de assistir a um belo bang-bang, quando encontro DVD, para aluguel ou venda.
Agora, voltemos à razão desses nomes em destaque. O filme a que assistimos, faz muito tempo, parece-nos o baseado num fato ocorrido no começo do século 20, no estado de Jalisco, região banhada pelo oceano pacifico, oeste do México. Um destacamento de federais fora morto a tiros e se falava num certo personagem que tinha vindo lutar contra o governo do presidente Plutarco Calles. Entre os rebeldes, Jalisco, Jeb e Leo, três facínoras, tomavam carona no grupo e aproveitavam o momento para atormentar a região com roubos, assassinatos e bandidagem.
Após a sessão, Lobão (Arquimedes) autodenominou-se “Jalisco”, passando para o autor deste texto o nome de “Jeb” e Lobinho (Edinaldo) seria “Leo”. Tudo isso para nosso governo, como segredo dos três.
Naquele tempo não havia ainda a figura do pichador profissional, que hoje emporcalha as grandes cidades e os centros urbanos no mundo inteiro, escrevendo dizeres políticos, mensagens cifradas de gangues e outras bobagens. Na Rua Nova, onde morávamos, havia a foice e o martelo, pintados num muro ninguém sabe por quem, com a inscrição do PCB.
Lobão, conhecido por suas inconsequentes travessuras, arranjou tinta e, na calada da noite, começou a escrever em vários lugares o nome dos citados bandidos do filme. No outro dia, os comentários eram sobre os desconhecidos personagens. O sigilo dos três estava sendo cumprido, garantido.
Aconteceu que Dona Maria Zuza flagrou Lobão pichando seu muro e exigiu que ele mesmo, de imediato, limpasse a sujeira. Do contrário, levaria o fato ao conhecimento de sua mãe, Dona Olívia, para o devido castigo.
Até hoje, parece-nos que somente João Neto (João do Mato) sabia o verdadeiro nome de “Jalisco”, “Jeb” e “Leo” e a história da molecagem dos três jovens moradores da Rua Nova, em Santana do Ipanema.
Maceió, setembro de 2015.

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