BEM, BEM, BEM...

Djalma Carvalho

Além de um gesto de carinho, o abraço também é demonstração de amizade, estima e apreço. É tomar, afetivamente, alguém entre os braços, repleto de calor humano. Pode ser – e será – um formal cumprimento. Ou simplesmente um amplexo, como melhor expressão do nosso idioma.
Vez por outra, lembro-me do extraordinário apresentador de programas de auditório de rádio e televisão, Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), por meio da canção de Gilberto Gil “Alô, alô “seu” Chacrinha, aquele abraço!”
A pandemia mudou o comportamento das pessoas ante o perigo da letal Covid-19, que ceifou milhares de vida no Brasil e no mundo. Com a gente mascarada, ninguém abraçava ninguém. Em lugar do abraço e do fraternal aperto de mão, usávamos o encontro de punhos, imitando-se gesto de ensaio de boxeadores.
Felizmente, estamos gradativamente voltando à vida normal, livres dessa terrível pandemia, graças à vacinação, apesar de tardia, de boa parte da população brasileira. Aos campos de futebol estão voltando os torcedores. O carnaval fora de época levou multidões ao sambódromo no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Aos poucos estão surgindo o aperto de mão e o abraço. O beijo virá mais tarde, como consequência natural do comportamento da sociedade buscando reencontrar-se, até então em rebuliço, ansiosa, cuidadosa.
Tratando-se de abraço, tem-se O Dia do Abraço comemorado no mundo inteiro em 22 de maio, inventado, em 2004, pelo australiano Juan Mann (talvez pseudônimo), que criou a expressão em inglês “Free Hugs”, depois “Free Hugs Campaign” ou Campanha dos Abraços Grátis.
De autoria do cantor Jota Quest, a música Dentro do Abraço diz: “O melhor lugar do mundo/ É dentro de um abraço/ Pro solitário ou pro carente/ Dentro de um abraço é sempre quente.”
Encontro na Internet a seguinte frase, de autor desconhecido, a respeito desta conversa: “Abraço é coisa séria e, por isso, não se empresta.” Dir-se-á que o abraço será dado com espontaneidade, com seriedade.
Diariamente, estamos vendo na televisão os horrores da guerra na Ucrânia, país quase arrasado pelos bombardeios do país inimigo. No Brasil, ultimamente, vive-se, lastimavelmente, a cultura do ódio, da perseguição, da vingança, do desrespeito às instituições constituídas, dividindo nossa sociedade, tradicionalmente pacata e ordeira. Falta-nos, nesse particular, a prática do abraço fraterno, da empatia, da esperança de dias melhores.
A tempestade passa. Depois vem a bonança.
Incrível que o autor de O Dia do Abraço tenha passado por certo dissabor ao retornar de Londres a sua cidade natal, Sydney. Não havia, na ocasião, ninguém para recebê-lo no aeroporto. Ele, então, resolveu passar para um papelão a inscrição “Abraços Grátis”, dirigindo-a a um local muito movimentado do aeroporto. As pessoas, de imediato, atenderam ao seu apelo, tornando Juan Mann pessoa famosa. Ação que se repetiu dias após dias, semanas, ficou conhecida no mundo inteiro. Virou vídeo e música.
Daí, O Dia do Abraço, 22 de maio.
Em um dos livros de memória, de autoria de Denis Portela de Melo, sobre o passado de sua Viçosa das Alagoas, disse ele que sua avó, bondosa, estimada e querida, aos domingos de manhã costumava ficar na varanda da Casa Grande para cumprimentar e abraçar os moradores do engenho que retornavam da missa. Em um domingo desses, ela cumprimentou e abraçou um deles:
– Como vai, seu Bené?
– Vou bem, Dona Sinhá. Bem pobre, bem velho, bem doente...
Além de palavras de conforto, seu Bené entendeu no abraço o melhor gesto de carinho da bondosa sinhazinha viçosense.

Maceió, abril de 2022.

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