Dona Marina era um anjo bom em minha infância e acredito que para muitas crianças de Santana. Sempre atenta ao comportamento revolucionário dos meninos e das meninas da Cruzada Eucarística Infantil. Um encontro agradável, onde nos socializávamos, aprendíamos respeitar horários, sermos responsáveis e desde pequenos viver em comunidade. Era uma comunidade religiosa da Igreja Católica. Havia uma hierarquia e eu particularmente admirava os líderes, da maneira como se comportavam, como desenvoltos apresentavam relatórios, atas dos acontecimentos de nossa cruzada. Sempre estávamos atentos aos acontecimentos das periferias, se precisavam de alguma ajuda, discutíamos em reunião o que devíamos fazer. Também participávamos de peças teatrais (dramas) como se chamava, do coral de Dona Maroquita, de passeios, como visitas ao cruzeiro, serra da mandioca da família do Padre Cirilo em Palmeira dos Índios e outros eventos. Tudo com a idealização de Dona Marina.
Ingressava-se na cruzada como aspirante. Ornamentava-se com uma fita amarela. Daí, dependia do comportamento de cada um, para que continuasse na comunidade, galgasse o posto de apóstolo e se orgulhasse da fita mais larga e até com estrelas como a da diretoria. Quando ingressei na cruzada, admirava a desenvoltura dos mais antigos: José Abdon Marques de personalidade extrovertida e amigo de todos, José Melo, José Geraldo Marques, Luizinho Cirilo, Bernadete de Seu João Agostinho, Socorro de Seu Joel e os outros que continuaram: Carlos Guido e Carmem Lúcia Azevedo, José Carlos Marques, Vânia e Vanda Rego, Assunção e Nena Barros, Irene, Zélia, Marlene e Renilde Silva, Glória e Ana de Dona Sinhá, Maria do Carmo Pereira, Madge, José Gentil, Renalvo Lira, Lurdinha Azevedo e Lurdinha Maciel, Maria do Carmo e Zilda sobrinhas de Seu Manoel Constantino e tantos outros que passaram pela liderança de Dona Marina.
Havia algumas meninas e meninos que não participavam, alegando que Dona Marina os repreendia, até com beliscões. Pessoalmente desconhecia esse tratamento de nossa mestra que soube nos amar, nos ensinar a servir ao próximo e viver bem em comunidade, apesar das diferenças inerentes a cada ser humano. Dona Marina como uma professora, como uma mãe, como uma líder, soube cativar aquelas crianças que se tornaram jovens responsáveis e prontos para enfrentar o mundo. Desde o Grupo Escolar, já mantínhamos compromissos com nossa mestra. Quando estávamos ensaiando uma peça teatral, aproveitávamos o recreio e íamos a sua casa em frente ao Grupo Padre Francisco Correia. Todos munidos de pirulito, pois era o lanche dos alunos do grupo escolar.
As apresentações sempre aconteciam no salão paroquial ao lado da Igreja de Senhora Santana. Para o maior deleite da Mestra, o salão sempre lotava. Os santanenses compareciam em massa e aplaudiam. Uma vez não deu certo, quando Maria José Melo com o intuito de ajudar, desejava embelezar o salão com um jogo de luz, e para tristeza de todos, aconteceu um problema de energia elétrica e ficamos no escuro. Todos foram tristes para suas casas, o espetáculo não aconteceu.
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