... Com o documento na mão direita e a maleta na outra mão, após alguns suspiros, consultei a hora no meu Grão Duque e dirigi-me a entrada do colégio onde cruzei com vários alunos que estavam saindo. Bastante nervoso dei boa tarde e perguntei se ali era o Colégio Marista. A voz embargou no momento de pronunciar o nome do colégio. Falei com um senhor, não sei quem, enchi a boca e disse: --- "tenho aqui uma carta do Deputado Padre Medeiros Neto". Entreguei-lhe a missiva que a abriu e leu-a lentamente. Minutos depois coçou a cabeça e me falou: --- "Não é aqui pirráio". --- Como meu senhor? É uma carta do deputado PADRE MEDEIROS NETO concedendo-me uma bolsa de estudo aqui no Colégio Marista. --- Mas não é aqui, vá ao Americano Batista. Nesse momento senti meu castelo de areia ruir nas dunas do meu descontentamento. --- E onde fica esse outro colégio? Perguntei, --- siga à esquerda, na próxima rua dobre à direita. Agradeci ao senhor que me atendeu e parti em busca do Colégio Americano Batista. Desta feita estou entregando a dita carta a uma pessoa com moldes de pastor que leu o documento, agitou a cabeça por alguns segundos como se estivesse afirmando algo e em seguida me respondeu: "Esta carta não é para ser entregue aqui e sim no Colégio Marista". --- Meu senhor eu já estive no Colégio Marista e me mandaram vir aqui. O cidadão fez uma pequena pausa e completou: "Vá ao Colégio Guido", deve ser lá. Recebi a carta de volta e partir a procura desse último colégio, resmungando silenciosamente. Depois de me informar com algumas pessoas, logo cheguei ao Colégio Guido. --- Boa Tarde. A quem devo entregar esta carta do Deputado Padre Medeiros Neto? Um estranho apontou para a diretoria e disse, é lá naquela porta. Nesse momento a barriga iniciou novos convites a refeição; a alça da maleta deslizava em minhas mãos pelo suor, enquanto o Velho Passo Doble vingava-se nas minhas meias. Tossi repetidamente a fim de esconder as lamúrias estomacais. Bato a porta ao mesmo tempo em que peço licença e entrego a carta já em formato de canudo a uma jovem bastante amaciada pelos anos, a primeira pessoa. A mesma história é contada e a mesma resposta é dada: Não é aqui neste colégio. Outra vez recebi o misterioso documento de volta, não mais agradeci e sai bufando de raiva. Aqui e acolá reclamava em meia voz: "Um documento tão bem redigido, mas sem destino". Desci a ladeira do Farol com cento e vinte na buraqueira rumo à rodoviária. Já passava das duas horas da tarde quando cheguei ao local do retorno para Santana. Vez por outra dizia baixinho: "Carta da bobônica", andei mais de três léguas quase acabo com o meu Passo Doble, fiz calo nas mãos e não apareceu ninguém para receber esta "fia da peste". Chego à rodoviária e vou direto ao guichê comprar a passagem de volta para Santana. O bilheteiro me atende e diz, o ônibus sai às dezessete horas. Peguei a poltrona número 11, lado da janela. Enquanto isso, dispunha de algum tempo até a hora da partida. Resolvi me afastar um pouco e procurar um bar para comer alguma coisa, estava faminto. Para minha sorte, logo adiante encontrei um restaurante ambulante, um vendedor de pastel com refresco. Arriei a matulão no chão e liberei o pedido: "Dois pastéis e um refresco de abacaxi". Forrei o estômago e paguei a conta com direito a dois arrotos. Em seguida retornei a rodoviária onde fiquei aguardando a hora da saída do ônibus para Santana do Ipanema...
Aracaju/SE, 21/09/2008
(Continua no próximo capítulo)
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