Pedro é um funcionário da Emater licenciado por problemas de saúde. Naquela repartição exercia a função de veterinário. Não tem nível superior, sendo um auxiliar de nível médio, porém bastante competente. Durante muitos anos exerceu essa função, sempre vacinando gado na zona rural, por isso ficou bastante conhecido pelos moradores daquela região. Paralelo a essa função era chegado a umas "caninhas", diga-se de passagem, também nessa área, bastante "competente".
Quem conhece esse trabalho realizado na zona rural sabe que, após a conclusão da vacinação, sempre é servida como refeição – geralmente um almoço – uma excelente buchada ou um prato bastante típico e admirado, que é uma gorda "galinha de capoeira"; galinha caipira, como falam os moradores do "Sul". Com Pedro não era diferente, um olho no animal a ser vacinado e o outro na cozinha.
A maioria daquele povo simples sempre o tratava, mesmo sem ser formado, como "dr. Pedro". Numa dessas vacinações, ocorrida no vizinho município de Poço das Trincheiras, Pedro foi convidado para proceder à inoculação no gado de um determinado proprietário. Atendeu e realizou o seu trabalho com bastante competência. Após a conclusão foi servido um almoço caprichado, acompanhado de uma boa caninha. Sempre que o prato estava ficando vazio, alguém da propriedade chegava com uma porção, bastante generosa, de carne, com uma pergunta: Dr. Pedro quer mais um pouco de galinha? Com a boca ainda cheia, era só balançando a cabeça em sinal de afirmação. Essa operação durou até a penúltima penosa – a última sempre é do pessoal da casa.
Quando a "Barragem" no leito do rio Ipanema ainda não estava assoreada, a família santanense sempre fazia piqueniques às suas margens. Nessa mesma data da vacinação, eu estava participando de um desses encontros, e o Pedro havia sido convidado. Já quase à tardinha, eis que chega o nosso convidado, batendo na barriga e elogiando a quantidade de ingestão e do "tempero" dos galináceos.
Pedro estava radiante, contando como havia sido tratado, quando, de repente, num passe de mágica, passou a correr por cima da água – teve mais fé do que o outro Pedro –, em direção a um muro de pedras que cercava a propriedade do sr. Izaias Rego. Pulou o muro e abaixou-se numa posição típica de que a quantidade ingerida de penosas fizera efeito. Continuou abaixado por um tempo, depois se levantou um pouco mais adiante, abaixando-se novamente. Trocando em miúdos repetiu esse ato por quase toda a extensão da cerca de pedras, num verdadeiro e perfeito trabalho de adubação.
Quase uma hora depois retornou até onde estávamos, pálido e suando feito tampa de chaleira, com a seguinte observação: "Eita gente, dr. Pedro lascou-se, a galinha estava "sentida" e eu nem notei!". Foi uma semana de "rei", sentado no trono. Depois desse dia, o dr. Pedro jamais exagerou na ingestão de galinhas. Dr. Pedro, mais um pouco de galinha? Nunca mais!...
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