DJALMA CARVALHO, UM EXEMPLO

Crônicas

Luiz Antonio de Farias (Capiá)

Já estava com esta narrativa no prelo, quando me deparei com a crônica de Djalma Carvalho intitulada “Barbudos e Cabeludos”.
O Djalma teve uma carreira brilhante no Banco do Brasil, galgou com rapidez os cargos intermediários e foi alçado ao posto de administrador de uma forma relampagueante, fruto de sua reconhecida competência. Tão logo nomeado, ele passou a liderar, além de alguns funcionários mais calejados, também um elenco de jovens – uns quarenta, salve o engano – recém-empossados, inexperientes, carentes de lapidação, feitos “diamantes brutos”. Isto aconteceu exatamente entre a década de sessenta e a de setenta, período da famigerada ditadura, mas também das grandes transformações culturais e de costumes. Época em que estava no auge a moda de barbas e cabelos grandes.
Talvez com o intuito de mudar de aparência, aderi ao modismo e deixei a barba crescer. Por conta dessa minha atitude o Djalma ficava, sempre de forma persuasiva, tentando me demover da idéia da minha nova postura. De repente, foi incluído um item, nas normas disciplinares do Banco, que determinava que “cabia aos administradores zelarem pela aparência pessoal dos funcionários”. Isso levou nosso focalizado a novas investidas convincentes, agora com cobertura regulamentar, segundo ele. No entanto, talvez por teimosia – por rebeldia, com certeza não – eu contestava afirmando que o dispositivo regulamentar era muito genérico e, no meu modo de ver, não se aplicava ao meu caso.
Tempos depois Djalma foi convocado para participar de um curso de alto nível em Brasília e qual não foi sua surpresa quando observou ali vários funcionários barbudos, inclusive um assessor de um Diretor do Banco com um “paió” de barba só comparável à de Justino Doido, o personagem focalizado no artigo que mencionei
inicialmente. Ao retornar do curso ele teve a dignidade de abordar o assunto e me dizer que talvez eu houvesse avançado um pouco no tempo. Para mim foi uma atitude própria das pessoas dotadas de alto espírito altruístico. Quero aqui enaltecer a extraordinária figura do Djalma. Pai de família exemplar, excelente amigo. A ele muito devo pelos ensinamentos basilares a mim repassados, que serviram, sobremaneira, na minha vida profissional e continuam me servindo ao longo da minha existência. Se houve entreveros no nosso convívio profissional apenas serviram para meu aprimoramento. O tempo nos ensina a entender de que lado estava a razão. Obrigado por tudo, meu “professor”.


CAPIÁ-Recife-ago/2006

Crônica publicada em 21/08/2006

Comentários