TANGO NA CAMINITO E NA FLORIDA

Djalma Carvalho

Viajar é, antes de tudo, salutar providência para quem deseja desenfastiar-se do enfadonho e maçante cotidiano. É também natural aspiração dos que desejam conhecer lugares, cidades e culturas diferentes em excursão recreativa, prazerosa, ou até mesmo em forma de aventura turística pelo Brasil e pelo mundo afora.
De minha parte, e por todos esses motivos, sempre gostei de viajar.
Em Buenos Aires, Caminito é nome de rua e de tango. Rua colorida, pintada de muitas cores, pitoresca, estreita, de apenas 100 metros de extensão, repleta, a céu aberto, de estatuetas, bustos, telas, quadros, murais, tudo obra de famosos artistas do mundo inteiro. É considerada rua-museu, de grande valor cultural, situada no bairro La Boca, ao lado da Ribeira Riachuelo e bem perto do estádio de futebol La Bombonera. Dizem tratar-se de antiga zona portuária, inicialmente habitada por imigrantes italianos.
Quem for visitar a capital dos argentinos, certamente deverá conhecê-la, em razão do seu acervo cultural, curiosidades, sua história e dos interessantes produtos do artesanato portenho procurados pelos turistas. Ninguém sairá de lá sem um suvenir, sem uma lembrancinha.
Tanto a Rua Caminito quanto a Rua Florida, esta no centro da capital, são roteiros necessariamente incluídos nos passeios panorâmicos pela cidade, organizados pelas companhias de turismo. A Rua Florida é extensa, reservada para pedestres, repleta de galerias de luxo e de lojas de famosas marcas.
O tango Caminito surgiu pelo ano de 1926, cujo sucesso de letra e música percorreu o mundo, antes mesmo de La Cumparsita e de tantos outros conhecidos tangos incluídos no cancioneiro universal. Vejamos, por oportuno, os românticos e sentimentais versos da primeira estrofe desse tango:
“Meu caminho que os anos marcaram.
Que juntos um dia nos viste passar,
Hoje eu venho pela última vez,
Tenho pena ao ver-te chorar.
Meu caminho que então te ofertava,
Sorrindo ao carinho que em ti floresceu.
Muito em breve uma sombra serás,
Uma sombra mais triste que eu.”
Em recente estada em Buenos Aires, não resisti à tentação de uma foto, fingindo dançar tango com uma linda jovem dançarina da Rua Caminito. Ali mesmo, ela e seu parceiro, que dispõem de indumentária apropriada e sobressalente, amealham pesos ou dólares dos desinibidos turistas que os procuram.
Enquanto posava para a foto, lembrava-me de semelhante cena ocorrida na movimentada Rua Florida, quando lá estivera eu em outra excursão. Ao me verem, então, interessado pela foto, duas dançarinas de tango seguraram-me pelo braço. Uma era linda e jovem, e a outra, uma velhota, ambas profissionais de rua e trajadas a caráter.
Esclareça-se, afinal, que nada tenho contra essa tolice que chamam por aí de melhor idade (melhor de quê?). Em verdade, custou-me muito livrar-me da idosa dançarina, coitada, que insistia em aparecer também na minha foto, lembrança da Buenos Aires de tangos e milongas.

Maceió, março de 2013.

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