Como nos faz bem o contato com a natureza!

Crônicas

Padre Adauto Alves Vieira

Durante a Oitava da Páscoa, precisei me ausentar da paróquia para poder descansar um pouco. Fui até o lugar que me viu nascer e crescer para melhor “recarregar as baterias”. 

      Saboreando daquele contexto bucólico, tive a graça de estar com uma das irmãs, a mais velha de todas, carinhosamente cognominada de Neném. Ela lida na propriedade com cuidado imenso, sendo uma verdadeira e responsável administradora. Ali, um desfrutou bem da companhia do outro. 

      Enquanto o ensejo tornava-se célere, íamos conversando sobre as coisas dos tempos de antanho, revivendo o nosso passado, um transato eivado de tantas coisas ruins e boas, as quais vão se processando no decorrer da vida de todo ser humano, tecendo, desta forma, o nosso limitado e pobre existir. Circunstâncias estas que vão moldando o homem sertanejo, fazendo-o experimentado e, antes de tudo, “um forte”.

Destarte, fomos recordando das pessoas com as quais nos deparamos no palmilhar de tantas sendas transitadas no decorrer desta vida, e fazendo vir à baila todos os acontecimentos pregressos, em tom de profunda nostalgia.

       No mais, tive como companhia o panorama enverdecido e belo do sertão, cuja paisagem me deixava às vezes absorto, diante daquele cenário que somente o Autor da natureza pode nos fazer granjear. 

      Ainda pude degustar auditivamente o lindo gorjear dos pássaros, cuja sinfonia do seu decantar fazia-me enlevar a alma a Deus num tom de ação de graças pelo dom perfeito e donairoso da criação.
 
      Como nos faz bem o contato com a natureza! Como sua imensidão nos faz aproximar mais de Deus. Sua vastidão airosa e quase que infinda nos faz enxergar todo o horizonte como sendo, no dizer de Cícero, o pensador, um “ingens Dei templum”, ou seja, “um grande templo de Deus”.

      Ali, como no dizer de uma moda de viola, a qual se encaixou tão bem com meu modus vivendis de outrora, "fui menino que andou descalço, pulando corda e jogando pião, cortando lenha pra fazer o fogo, batendo enxada pra cavar o chão”.

      Aqui fica exarado o sentimento mais que campesino, de um sertanejo nato, amante de suas raízes, o qual, nos sopés das tão elevadas serras que rodeiam aquelas paragens, deixou ficar o seu coração.

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