Por que a Igreja pede aos seus filhos que se abstenham de carne nas sextas-feiras, especialmente durante a Quaresma?

Crônicas

Por Padre Adauto Alves Vieira

A abstinência de carne, para os cristãos, segue o mesmo princípio do jejum, onde o foco não está apenas na ação em si. Muitas vezes, o jejum é praticado para atender às necessidades do corpo, em vez de buscar os objetivos espirituais da religião, como a elevação espiritual. Quando buscamos melhorar nossa aparência física ou adotar hábitos mais saudáveis, geralmente o fazemos sem hesitação.
Por outro lado, para seguir o caminho da espiritualidade, não podemos ignorar esses preceitos ascéticos e sua história. A sua realização já ocorria em tempos bem remotos, pois "as tradições judaica e cristã sempre prestaram atenção à abstenção do alimento, sob a forma de renúncia a certos alimentos, como a carne, particularmente".
Assim, séculos de tradição espiritual cristã, através da observação, confirmaram os hábitos da abstinência como algo memorável e essencial, considerando que “para viver, é preciso comer, certo, mas é preciso parar de comer e impor-se um limite. Isto é, é preciso parar de comer de tudo e não esquecer que, para comer carne, é necessário exercer uma violência e matar um animal... O homem deve limitar sua violência, que o conduz a 'comer' o outro, e lembrar-se assim da exigência de ser 'diferente' em sua relação com o outro'".
Apesar dessa riqueza espiritual, perante um mundo marcado pela incredulidade e indiferença religiosa, pouco ou quase nada disto se entenderá. Para alguns soa como um absurdo. Mas quanto ao cristão convicto, este, sim, saberá entender e atentar para a observância daquilo que a Igreja como Mãe e Mestra está a nos ensinar. Deste modo poderá afirmar: "hoje não comerei um alimento cujo sangue foi derramado e cuja vida teve que ser violentamente eliminada. Este é, pois, o significado de uma das mortificações sugeridas pela Igreja neste tempo forte: exercitarmos na renúncia à avidez agressiva contra a vida, tendo em mente que a vida do animal, seja sua espécie qual for, pertence única e exclusivamente a Deus e nunca ao homem”.
De resto, exercitar estas práticas é um modo de nos unirmos mais a Cristo em seus sofrimentos, tendo em vista levar mais a sério nossa conversão. Assim sendo, cumpriremos aquela afirmação de São Paulo, tão válida para este tempo forte: "Completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja (Cl 1,24).
Portanto, peçamos a Deus que nos faça frutificar através da mortificação, dizendo: "Olhai-nos, ó Deus de bondade, de vossas celestes moradas, a vossa família, e fazei crescer no vosso amor aqueles os quais se mortificam pela penitência corporal!”.

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