BALADA DA MOÇA VESTIDA DE SOL

Poesias

Por José Geraldo Wanderley Marques

Coberta apenas de sol
Há um corpo-mulher
Na praia da Ponta Verde

Veio no mar flutuando
E todo mundo foi ver
Sem querer acreditar

É uma sereia calada - diziam uns
A outros que o confirmavam

Poderia até ser
Pensou o poeta em poema
Inscrito na areia da praia

Mas não era
Entre pernas bem se via
A concha que a adornava

Triste fora a sua sina:
Tomada pela mão
Do destino foi a menina
Levada ao alto mar
Em busca de solução
Para a dupla solidão
Que o seu peito apertava

Quem sabe a solidão marinha
Não fosse melhor do que a minha?
Pensou compondo um poema
Escrito com as suas lágrimas

E entre estrelas do mar,
Corais, cavalos marinhos,
Caracóis, ouriços, sargaços
Deixou-se afogar

As mesmas águas que a levaram
Trouxeram-na para mostrar
Vestida apenas de sol
Salgada, sacrificada
E definitivamente só

E estando agora sozinha
Quando já não precisava
É que a compaixão encontrava
Nas solidões dos que viam

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