E PRA QUE SERVE A LITERATURA, LITERATURA SERVE PRA QUÊ?

Artigo

M. RICARDO-ALMEIDA

Imagem: https://literatura.rocks/

Tão só promove as cidades o espírito da persona festivissimus. Carnaval figura esta imagem de persona festivissimus que está nas ruas, nas ladeiras, nos bairros da cidade – nesse período do ano. Persona festivissimus gesta vida em todas as vidas.
O calor chega a Santana
ao som da festa-carnaval.
E a uma semana contada
se festeja a vida humana.
O carnaval toma as ruas;
povo festeja e se irmana.

E pra que serve a literatura, literatura serve pra quê? O novelo da literatura encontra-se numa pessoa muito festiva.
E não há carnaval sem sol
no sábado vive zé-pereira.
A cachaça, o caldo de cana, 
blocos mela-melas, foliões
nas ruas cheias de Santana.
Os blocos e as batucadas 
num carnaval nessa infoera; 
Santana, num carnaval hightec,
ferve nas ladeiras seu frevo,
e hologramas homenageiam 
foliões em suas ruas ancestrais.

Entre as invenções mundanas, num exercício de inteligência, literatura é ainda a mais criativa. Só o carnaval admite misturar fantasia e realidade.
As marchinhas em Santana,
e foliões de outros carnavais.
Foliões & vida são uma ponte
ligando os foliões à alegria,
fazendo terra sobre a água;
alegria festeja-se a cada dia;
e foliões atravessam a ponte
feito os blocos nessa estrada,
quais as nuvens transitórias
a reivindicarem quem brinca.
A folia só se faz com festas;
em grande batucada as ruas.
Platão reinventou a Filosofia,
Iansã e Éolo avivam os ventos
unem-se Oxum a Afrodite;
e o carnaval segue a latomia
nesse teatro de rua, em Santana.

Não há desencantamento em carnavais. É o carnaval quem manifesta o inconsciente na consciência, como exercício mítico de sua persona festivissimus.
E desde ontem surgiu o carnaval,
não só no calendário Diocleciano.
E os romanos dominaram Esparta;
abraçados Dioniso e Baco, bêbados
no retorno da guerra de Peloponeso.
Calendário do carnaval mudou data.
Bebendo em copos de vidro grosso,
ruas de festa e passistas rodopiam 
e vêm do Bebedor brincar carnaval
as máscaras nas ruas de Santana,
tocam os surdos nas ruas e becos,
nas ladeiras de Santana mela-melas.

E a visão de mundo encontra-se no mundo literário desde a teogonia dos velhos gregos. Há na persona festivissimus a manifestação divina à felicidade, a felicidade diante de Eco mítica. Carnaval representa a juventude, o encanto e a beleza que se expressam na literatura, respondendo “Pra que serve a literatura?”
Ecoou
o urro
surdo.
Corria
a cana
festiva
na via.
Selfies
à noite,
sábado.
Foliões
bebiam
bêbada
alegria.

Pensamento mítico expressa-se pelas imagens, conforme acontecem nas festas carnavalescas. As percepções sensoriais na persona festivissimus estão todas restritas à noção dos deuses foliões, desde a literatura mais antiga.
Em Santana, algarobeiras acordam:
são os passarinhos em seus galhos.
Galo-de-campina acorda coleirinha;
o açoite do canto que acorda casas.
Canários-da-terra presos em gaiolas.
Acorda azulão. Na serra surge o sol.
Assim, as ruas são povoadas de pés
e as bocas homenageiam canções;
tomam as canções as ruas, ladeiras,
lamentando a prisão do canário-da-terra
na gaiola, outros de galho em galho;
algarobeiras caladas a cada canto
perdido nas serras do alto sertão.

Todas as tentativas que definem pra que serve a literatura expressam-se na persona festivissimus. Feito carnaval que ocorre em bate-papos aporéticos, hoje tão comuns em podcast, na cidade.
Os metais ensandecidos,
súbito, acordam a cidade;
e no frevo do reencontro
as caixas enchem as ruas,
sopros enchem as praças,
e passos desses passistas
acordam o velho casarão.
E a festa toma os becos,
e a festa invade as ruas,
e o povo sai indo às portas.
Santana outra vez acorda
sob as cordas dos violões.
Bebemoramos, Santana,
já é festa do reencontro.
Vida, nesses dias festivos,
carregados de amizades,
transmigrando de alegrias;
todos os amigos reunidos
nesse dia especial de calor
vêm celebrar as memórias. 

Quem avalia esta celebração do carnaval, nem sempre usa metro próprio. Exceto a persona festivissimus que vive e revive a festa como a alma da cidade.
E vamos sacudir a cidade
com a festa do reencontro.
Cada encontro vale a vida
e cada vida vale o canto.
É por isto que eu canto:
Viva, viva o reencontro.
Glosadores à vontade,
sendo seu mote a folia, 
festejando à vontade
nesse frevo da alegria.

O que se reencontra na literatura é a persona festivissimus incorporadora, sob diferentes aspectos, a força à cidade. Nenhuma cidade sobrevive sem festa, pois, ela é alma da cidade representada na literatura, como utilização proveitosa à cidade, importante, permanente e imperativa.
Acorda, Santana.
A serra traz o sol,
e não deixa morrer 
água no rio arrento.
As notas musicais
têm fá e lá e si e dó
marcando o passo.

A precariedade humana exige da cidade a prudência, e busca nas festas livrar-se das doenças. Sem literatura, a persona festivissimus transforma-se em tragédia; é a literatura quem pode alimentar o corpo e o espírito de foliões.
Mais sal no joelho
fazendo o mocotó,
vai frevo na panela
no molho da vovó,
frevo vai no posso, 
logo desata em nós. 
Ouça frevo na praça.
Segue ritmo o passo.
Carnaval feito de sol.
Santana gira a mó,
a cidade nunca tá só.

Carnaval, na História, inaugura o teatro de rua. Persona festivissimus vem num lampejo de inspiração divina. Óbvio, tudo é doxa, apenas opinião. A persona festivissimus só existe no mundo, afinal.

E pra que serve a literatura, literatura serve pra quê? Serve porque cada encontro vale a vida e cada vida vale o canto. E vamos sacudir a cidade com a festa do reencontro.

M. RICARDO-ALMEIDA

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