NOVAS VOZES D´AFRICA

Poemas

Poema de José Geraldo W. Marques

De Maceió até Luanda
É uma reta estendida
Mas não pode ser medida
Em marítimos nós

Pode porém ser ouvida
Por dentro dos nossos nós
Em nossos gritos perdidos
Em nossos prantos contidos
No gargalhar do algoz
Desde que fomos trazidos
Desde África até vós!

Tu bem o disseste Pessoa
Que o marítimo sal
Contém lágrimas de Portugal
E se bem o disseste
É porque usaste a alma
Toda branca e lusitana
Por medida soberana.
Mas não mediste o sal
Contido no sangue infeliz
Daquela gente africana
Que foi atirada ao mar
Servindo para alimentar
Tubarões e tubaranas!

Fico então a imitar
Teu lamento pelo inverso
Na certeza de encontrar
A insuficiência dos versos
Neste pálido versejar.

Mas pergunto a tanto azul
Que banha nossos corais:
Onde escondeu-se o encarnado
Que líquido foi derramado
Seguindo o navio negreiro?

Será que foi transmutado
Nos verdes canaviais
Virando o verde demerara
Nos nossos alagoais?

Se no pastoril natalino
Que todo ano se dança
No reino das Alagoas
O azul está mostrado
Não lhe falta o encarnado
Na figura da Diana

Portanto não só de azuis
A nossa história foi feita:
Há também os encarnados!
E a hora está perfeita
Para contar e cantá-los!

Vem, pois, Zumbi pelos ares
Pelos mares, pelas terras,
Reacender nossos peitos
Com a chama que não se apaga:
Liberdade para sempre
Liberdade ainda que tarde!

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