(do livro “AS RUAS”. Maceió: Sergasa, 1992; do romancista alagoano, nascido em Santana do Ipanema, Marcello Ricardo Almeida)
(...)
Quando entrei no ônivus:
– Sótinhagraxa!
Debagar (debagando):
– Debagar com o ardor que o santoquerijar!
– Buuuundin.
– Pornádgs!
Quando entrei no ônivus, denoite. Sim. Ali. Estaba a caduca frase: FÃO NUME, FOR PAVOR.
– Fão nume, for pavor? Denoibo?! Denoivo. Por quê? Todos mundos conhecem-na debotada oiencor!
Todos mundos quase usam cigarros; por cisco – pensei. Todos mundos, sem distensões. Passivo ou ativistamente. No chachacoalhamentoto do ônivus, lá estava Jãolimão (DosBesouros, de Livrepulo, Enganatêra). Renavo Aravão servia gim. Era um bateblablá com o papafigodasnifas – Lewiscarrapeta, o mesmo d’As Aventuras Daliciavento.
– Por que os vegros e os romanos dominaram a civilização antiguadra, não quer dizer – dizia o vocalista Jãolimão ao matemático Lewiscarrapeta, que agora jáera o Carroça. Coisas pros enganatêras, tossiu. Aravão servindo gim. Este derradeiro é o igual DosTravalhões.
E o ônivus perceveu os passabiageiros, seguindo pelas arruazas costureiras até redovar à esquadra, depois a esquina.
– Fresei em descer do ônivus pra vever gim também. Comum se o travalhador fodesse descer do ônivus pra vever gim com Jãolimão, Aravão e Lewiscarrapeta. (...) E escutei um aeiouivo vindo de fora do ônivus, então vi que era A ALLUUUUUUUUMOA QUE VIRA LABZOMMI naquele dia frio porém frio um dia muito frio e ainda assim fazia bastante frio um frio glacial naquele dia frio frio frio frio de verdade de tão frio que era aquele dia frio frio de congelar cadáver tamanho frio fazia naquele frio de um dia frio que antecedeu a um dia quente quente quente pra gato e cachorro e suas brotoejas e desidratações a umidade relativa do ar chegava a quase doze os donos dos bares sorriam um sorriso sorrilargo de quem mostra uma euforia incontida ante dinheiro novo isso era na quinze beirarrio alamedalmeida ou mesmo na antonio da veiga assistido pela furb ou na vinte e nove de setembro rua das missões quatro de novembro vinte e sete de abril ou lápáitoupavas e dá-lhe cerveja naquele dia quente no céu passarinho voava batendo só um motor enquanto abanava-se com as aeromoças como tomava-se cerveja nos bons tempos minha chapéu os termômetros fumegavam de cede na sede dos artistas e escritores de nanocontos as bocas espumavam de cervejas beerbier desses barzinhos poralieporaqui minha chapéu era e é exatamente ruim amarga e trava e o ônivus entrou pocando na avenida nossa senhora de fátima eu o vocalista jãolimão o matemático lewiscarrapeta e aravão que servia gim no tênis clube santanense entre um dia frio e quente e sem carecer de lua cheia uma alumoa que foi aluna se metamorfoseava em labzommi depois voltava pra casa como se nada tivesse ocorrido com toda a sua cara e aspecto recheado de sinistro a esperar o pai marido chegar da fábrica com um prato mesquinho de aipim torrado no azeite pra almoçar linguicinha-caipira ou polenta com alho e cebola com sorte tinha chucrute no jantar e chimia no pão caseiro televisão pro almoço e uma cama estreita pra mexericar a vida alheia mas este já havia comido ovo de codorna num bar com pinga e passado na casa da vizinha pra comer a codorna quem não se lembra de vera que pink-y-floyd insistia em chmá-la de viiiiiiiiira, n’o muro vera era loira gorda e fria mas tinha olhos verdes azulados marrons tão azuis que chegavam a ser azuis aqueles seus olhos negros ninguém pode se esquecer de vera ou vira dos olhos azuis que trabalhou no teatro-feijão-com-arroz com seus cabelos loiros e sem diferença nenhuma dos outros cabelos do corpo a mesma vera como representava mal naqueles festivais universitários e adjacentes ela era tão querida com seu cabelo loiro-pastoso e seu olhar azul-albino numa cara carapálida vera metida em meias caras do Paraguai de solano lopes só posso lembrar de vera a galega como uma garota-mulher vera comprovava a quem quisesse discordar que provando por x e y ela era que mal mal pode haver mal em alguém ser mal feia mas vera não era uma vera que se encontra e vera virava copos de metro de quilômetro de légua de milhas de chope e dança chopedança ninguém tem coragem de dizer que um dia viu vera bêbada nas nuvens vendo o vento e o tempo no tunga no bude na zás chamando chilmar chilmar era amigo de vera e sabia que não sabia tudo e vera sabia de vera e do chilmar uma vez todas às vezes era assim mas chilmar preferia uma vez que quem quisesse que descobrisse o ponto fraco de vera pelas suas próprias astúcias quando um sino qualquer de igrejas quaisquer tocou vezes quantas quiseram bem tocadas após aquele dia frio e quente as unhas de vera não pararam as unhas de vera faziam espanto em zédocaixão e as unhas de vera cresciam cresciam cresciam e de tal maneira lhes acompanhavam os dentes sobretudo os careados a exemplo do dente cariado de monalisa e cada pelo de seu corpo peludo as roupas em vera ficaram sumaríssimas foi quando se percebeu o quanto corria corria sem resfolegar corria por becos atravessava a rua do sebo a toca da onça o horto florestal as itoupavas o morro do cachorro a rua nova o monumento a rua do sol a pajuçara boaviagem a ipirangaconsãojoão o morro da marreca e do abacaxi uma hora estava no spitzkopf um segundo encontrava-se no baú vera virada em labzommi uivava tal viralatas em cima de morto chilmar ia estudar como fazia nos dias úteis quanto tava com saco descutar abobrinhas de professores e intermináveis chamadas e infindas e sem graça piadas chilmar estava após um dia quente e frio no mesmo ponto de ônivus onde eu conversava com jãolimão lewiscarrapeta e aravão servindo gim no badenfurt chilmar estava quando recebera um abraço de vera labzommi dali-a-pouco bem pouco plink lá estava o floyd e vera falava pelos cabelos a pessoa né e o animal né por outro lado né é social né e através da janela desse lado do ônivus né A PESSOA É UMA FERA POLÍTICA né gritou vera e vera juntou-se comigo jãolimão lewiscarrapeta aravão e chilmar pra enxugar jarras de chope e vinho e todas as garrafas de steinhäger que as fabriquetas pudessem engarrafar e tudo acaba-se no tempo em que john cantava mother de lennon e vera pensava que paul estava no maracanã àquela noite cantando live and let die que gun’s and roses regravou por isso vera matou chilmar de vergonha e todo e qualquer e toda coincidência coincidente coincidir com algum conhecido ou conhecida terá sido ou sida mera ou mero coincismo
(...)
(*) - Este é o estilo nonsense de alguns de dos elogiados e premiados textos em prosa e versos do dramaturgo Marcelo Ricardo de Almeida.
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