O VOO DAS BORBOLETAS

Crônicas

Remi Bastos

... O céu reverenciava a terra com seu manto azulado sob um sol flamejante, que lançava seus raios devorando a vegetação, transformando o cenário no qual tudo tremia à distância pelo calor.

As imburanas desnudas de suas folhagens no seio da caatinga se rendiam a tristeza do tempo, enquanto o juazeiro conservava o verde da esperança, agasalhando em sua sombra a juriti que solitariamente anunciava as manhãs ensolaradas através do seu canto.

No leito do riacho, ao longo do seu curso, as areias ardiam em brasas no silêncio da seca; as craibeiras esparsas acolhiam os caçadores exaustos pelo cansaço na estrada empoeirada da Timbauba, margeada pelo riacho Camoxinga; o vento agitava a terra formando redemoinhos, arremessando as folhas mortas que se perdiam na distância.

Ao longo do caminho uma casa de taipa limitada por uma cerca de pedras, acolhia em seu terreiro um velho imbuzeiro, onde às sombras de suas asas uma criança brincava com animais extraídos do seu imaginário.

Prossegui na caminhada, o calor estava me vencendo, ainda faltavam alguns quilômetros para chegar a Camoxinga dos Teodósio. Mais adiante, uma frondosa baraúna agitava-se ao vento seco, embalada pelo canto da Casaca-de-couro.

Parei por um instante, estava cansado, sentei-me com as costas apoiadas ao tronco da árvore solitária, soltei a peteca (baleadeira) e a mochila com balas de barro aos meus pés, tomei um pouco de água que trazia em uma cabaça, enquanto eliminava o suor do rosto com um simples estralar dos dedos e observava na ribanceira o riacho sendo engolido pelas areias cálidas num cenário triste.

Adormeci por alguns instantes, e nesse pequeno devaneio retrocedi no tempo em que outra vez senti a felicidade de me banhar nas águas cristalinas do Riacho Camoxinga. Brinquei nas areias às suas margens, prendi mangangás em caixinhas de fósforos e mergulhei nos voos das borboletas multicores, numa fantasia ingênua. Despertei com o sopro do vento em meu rosto, triste por ter deixado aquela fantasia adormecida em minha mente. E finalmente continuei a caminhada rumo a Camoxinga dos Teodósio onde realizaria mais uma caçada.

Aracaju/SE, 13/09/2010

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