REVENDO NOSSA HISTÓRIA

Crônicas

Antonio Machado

Na incessante busca de fatos e feitos históricos, que ocorreram nos interstícios da epopéia olhodaguense, com mais de 200 anos de caminhada (1800-2009), para enfeixar meu livro intitulado Olho d’ Água das Flores e Sua História- (1800-2009), encontrei fatos hilariantes, jocosos, tristes, enfim, todos eles fazem parte da saga de nossa gente e sua história.

No capitulo tocante aos delegados, policiais, inspetores que passaram por esta terra, que no livro aprece com o nome de “delegados e tiranos”, encontrei que no final da década de quarenta, a mando de Santana do Ipanema, que não via com bons olhos o crescimento da então Vila de Olho d’ Água das Flores, e para ela, quanto pior melhor, chegaram à Vila, os cidadãos, se é que merecem este adjetivo, cabo Amaro e o soldado Tinteiro, este, negro de largar tinta, quando na época ainda pendurava o racismo.

Ambas as autoridades, eram possuidoras de uma maldade incomum, se andavam na feira, por acaso uma pessoa desavisada, tocasse sequer num deles apanhava de imediato, eram intocáveis. Diante das atrocidades daquelas autoridades, o povo os temia muito, mormente, nós do mato, fugíamos da polícia como o demônio da cruz. Fazendo-me lembrar até, um seriado que havia na televisão nos anos 80, chamado de O bem amado, que narrava a saga de uma cidade chamada Sucupira, quando o prefeito mandava prender as pessoas sem motivos, e quando a delegada perguntava os motivos das prisões, o prefeito respondia: Prenda, depois arranjaremos os motivos.

Para se ter uma idéia desses asseclas da lei, quando uma pessoa vinha dar parte de qualquer que fosse a queixa, primeiro: apanhava,ficava presa, e informava onde a outra pessoa estava, que era trazida a delegacia e apanhava também. Ambas presas, aí, iniciavam-se posteriormente, o interrogatório.

Hoje, setenta anos depois, em pleno século XXI, nas novas tecnologias, fatos dessa natureza, repetem-se na cidade com 56 anos de emancipação política, pessoas inocentes e indefesas foram presas arbitrariamente, sem sequer ser ouvido em seus direitos, a polícia chega e leva tudo de roldão. E eu pergunto: Como condenar, sem se julgar? Ah! Também eu não sou advogado para entender essas coisas. Só que as pessoas presas desta cidade, não apanharam, mas ficaram mais de um mês na prisão dos condenados, longe de suas famílias, da sociedade e de seus trabalhos, delas, cursando o último ano de faculdade além de outras estarem também na faculdade, sujeito a perder o período.

Ao ver tanta barbaridade exposta, tudo em nome da justiça e da moralidade, lembrei- me do cabo Amaro e de Tinteiro com suas atrocidades, parecem que tinham aversão a sociedade.

Pergunto- me: a pessoas que engendraram todo caso, criaram fatos, enveredando pelo campo da suposição, não pensam que possuem, também, famílias, que mais tarde, possam passar por esses vexames tão agudos? Será que essas pessoas que sofreram na pele a dor da prisão, vão ser as mesmas perante a sociedade? Será que elas vão ter força sugerida na música: “ali onde eu chorei/ qualquer um chorava/ e dar a volta por cima, que eu dei/ quero ver quem dava”. E amanhã, quando raiar um novo dia, as pessoas que causaram tantos dissabores a seus semelhantes, como se sentem com a consciência, estariam tranquilas? Sabe Deus.

Não sou dono da verdade, nem quero sê-lo, sou daqueles que, quem dever, deve pagar por seu erro, porque o que é do povo deve ser dado ao povo, é crime se locupletar o erário público, a lei deve ser para todos com igualdade e com justiça, mas nunca condenar antes de julgar. (Lex sed Lex).

Às vezes, a justiça, torna-se muito morosa, levando Ruy Barbosa a dizer: “a justiça tardia, torna-se injustiça”.

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