Foram-se os anos em que o carnaval de clube em Santana do Ipanema atravessava a noite estendendo-se até as primeiras horas da manhã. A Sede dos Artistas não deixava por menos, havia anos em que competia em animação com o Tênis Clube. Seu Duca, um dos organizadores dos eventos estava sempre preocupado em manter a ordem no recinto, colocando-se à disposição para os serviços necessários, principalmente nos períodos festivos, entre eles, o carnaval.
Ano 1962, a euforia de Rei Momo contagiava os foliões santanenses. Os blocos do Bacalhau, do Urso e Os Cangaceiros, desfilavam pelas ruas da cidade irradiando alegria através das marchinhas que entoavam, tais como: Chiquita bacana, As águas vão rolar, Jardineira, Você pensa que cachaça é água, e principalmente o hino do Bloco do Urso que se consagrou entre as novas gerações. Nessa época o carnaval de rua em Santana não ia além do meio dia, alguns foliões preenchiam o tempo divertindo-se nas casas dos amigos, para mais tarde caírem no QG do frevo no centro da cidade ao som da orquestra que deixava o Tênis Clube descendo pela Avenida Dr. Arsênio Moreira, após o encerramento da matinê da criançada. Eu também brinquei na matinê do Tênis Clube. Como era gostoso e divertido. Tempo da bisnaga com água (às vezes com pimenta), do confete e das serpentinas que coloriam o salão. No entanto, o carnaval na Sede dos Artistas marcou época pela dedicação e animação dos seus associados. Geralmente a minha entrada no período carnavalesco neste clube social era patrocinada por Seu Oscar Purcino, pai do nosso amigo irmão Everaldo, que procurava chegar cedo ao clube para ter acesso a um bom lugar. Enquanto isso a turma do trejeito formada por Benedito Cego, Sílvio de Jandira, Nego Carlos, Motorzinho, Mindinho entre outros amigos, se divertiam no salão ao som da “eletrola” que tocava as inesquecíveis marchinhas carnavalescas enquanto o baile começava. Lá para as tantas, hora de esvaziar o salão, e mais uma vez cabia ao Seu Duca a missão de retirar a garotada que não paravam de se movimentar no interior do Clube. Eu me garanti na mesa ao lado da família de Seu Oscar no momento em que passei a chamá-lo de Tio, justamente para me tornar imune às ordens de Seu Duca que para nós era um carrasco. Nesse momento Benedito tentava burlar a vigilância buscando refúgio embaixo da mesa onde eu estava, mas no momento tive uma inspiração e falei par o amigo, “Benedito lá no palco por trás da cortina, e o ceguinho num raio partiu para o abrigo”. Acontece que a cortina ficava cerca de vinte centímetros acima do chão. O Biu se ocultou por trás daquele mundo de pano, mas se esqueceu dos sapatos que ficaram de fora e bem visíveis. No momento da batida, ao vasculhar o palco, Seu Duca se deparou com aquele par de sapatos pretos necessitando de balanceamento e recauchutagem e cambagem, comprado na feira de Caruaru e não deu outra. Abriu a cortina e lá estava o velho Biu que no susto só deu tempo para dar um grito, aaaai e se mandou na velocidade do gás butano. Ao passar perto da mesa onde eu estava falei, aqui Benedito debaixo da mesa, e o Biu resmungou ... “Nego fio da puta”! Bons tempos aqueles.
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