O ROMANCE RIBEIRA DO PANEMA

Crônicas

Antonio Machado

Há mais de três décadas que o romance Ribeira do Panema foi escrito, (1977- 2009), pelo escritor santanense, Clerisvaldo B. Chagas. Em visita rápida ao ilustre santanense expedicionário brasileiro, professor, comerciante e culto Alberto Nepomuceno Agra, orgulho das letras de sua terra, a vetusta Santana do Ipanema, o amigo me presenteou com um exemplar do livro acima citado, tinha conhecimento de sua existência, porém não o conhecia, em que pese ser amigo do escritor de há muitos anos. O professor Alberto Agra é uma referência cultural em sua terra, pertence a todos os clubes de serviço de sua cidade, homem educado, polido e cavalheiro de escool, sendo hoje dono do maior acervo cultural da cidade, possui verdadeiras joias culturais raras para nosso tempo, sequer o museu Darras Noya chega a seus pés, possui obras como o Alcorão, o Torá, coleções da famosa revista O cruzeiro, além de uma valiosa pinacoteca invejável a qualquer pessoa que gosta e admira a cultura, sendo, pois, professor Alberto Agra, homem de conhecimentos gerais e civilidade, sem adentrar na área comercial que é seu forte.

Foi esse homem tão singular que me deu o romance que ora passo a comentar, trata-se de uma obra escrita dentro dos moldes sertanejos, numa tramóia bem montada idealizada pela inteligência talentosa do escritor Clarisvaldo B. Chagas, o romance Ribeiro do panema, assemelha- se A vidas secas de Graciliano Ramos, A bagaceira de José Américo, O quinze de Raquel de Queirós, Procissão dos miseráveis de Luíz B. Torres, nas histórias narradas por ambos tem muito em comum, a maneira das narrativas são muito parecidas, contudo, cada um possui seu estilo que os fazem diferentes, haja vista parecer não significa ser. O Clarisvaldo em seu romance enfoca briga, amor, ódio, política, a luta pelo poder, os avanços e os recuos dentro da vida humana na conquista pelos valores efêmeros, dentro de uma cidade ainda em formação, que ora se confunde com sua cidade natal, ora com Ribeira do panema, uma cidade ficcionista. É dentro desses ângulos e trâmites que se desenvolve toda odisséia da história, com personagens fictícios, que às vezes, asemelham-se com casos passados, porém como próprio escritor insinua, tudo é mera coincidência, vamos dizer que é.

Ribeira do panema é uma obra de fôlego escrita em 188 páginas dentro de uma linguagem coloquial, sem erudição, mas correta e bonita, predendo o leitor do começo ao fim. Com um final trágico, conforme assinalou a cartomante, mas não deixa de ser uma história envolvente, levando o leitor a torcer por determinados personagens da narrativa, que quando chega ao final, deixa o leitor desejoso da história continuar, haja vista deixar margem para continuação da obra, pena é que o escritor não o fez. Em sendo escrito há mais de trinta anos, se reeditado fosse, e até com uma complementação do caso- enredo, certamente faria muito sucesso hoje, pois as novas gerações desconhecem esse beteséler sertanejo de nossa história. Até o escritor bem poderia pensar nessa hipótese. Portanto, caro escritor Clerisvaldo Chagas, sua obra me impressionou, sei do seu talento, mas desconhecia esse valioso trabalho, parabéns mesmo trinta anos depois, mas o bem nunca é tarde para se desejar a alguém.

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