Criei-me ouvindo alguns benditos chorosos dos romeiros de Santa Quitéria de Flexeiras, e quando a vida me concedeu a independência, arraigado também de curiosidade, fui fazer uma visita à milagrosa imagem.
Trata-se de um modesto vilarejo perdido no meridiano de Pernambuco, distando de apenas 09 quilômetros de Garanhuns, porém, Flexeiras pertence ao município de São João, que dista cerca de 231 km, do Recife. É um lugar sem atração comercial, mas que ao longo da historia de Sta. Quitéria que data do século XIII, conforme um livreto que é vendido no local da romaria, essa imagem veio de Portugal, mas precisamente da península ibérica, trazida pelo avô do português, Severino Correia da Rocha, que se instalara naqueles arrabaldes numa casa muito antiga, que ainda hoje conserva os traços do passado. Não existe nenhuma igreja no local, apenas essa casa ostenta a piedosa imagem de Sta. Quitéria, com suas vestes que lembram a bandeira de Portugal, e ostenta em sua mão uma palma, como símbolo da vitória, e sobretudo de seu martírio, e em sendo muito milagrosa, Sta. Quitéria atrai para aquele local um número incalculável de devotos, mormente dos estados nordestinos. Ao redor da casa-mãe, outras, foram sendo construídas por pessoas que atraídas pelo fluxo regular de devotos, passaram a comercializar objetos religiosos, e hoje até uma feira já se insinua no lugarejo, mormente aos domingos, existe realmente um comércio informal, com vendas de guloseimas, comidas típicas barracas com DVD. pirata com hinos religiosos, violeiros, bodega vendendo cerveja e cachaça da boa, enfim, Sta. Quitéria de Flexeiras, é um lugar muito visitado, tantos por religiosos, quanto por turistas, pesquisadores e curiosos.
Biograficamente, Quitéria é filha do governador Lúcio Caio Atílio Severo é Cálcia Lúcia Severo, de tradicional família portuguesa, porém, ambos idólatras, tendo nascido no século V da era Cristã. Em sendo o casal sem filhos, Deus suscitou naquele lar uma parto de 09 filhas, o que levou a mãe Calcia, a assustar-se, e como o marido estivesse viajando, a mãe combinou com a pessoa que lhe assistiu tudo, por nome de Cita, que afogasse as gêmeas num rio próximo, e ainda passasse para o povo que seu parto foi infeliz, e que a filha havia morrido. Contudo, Cita, que era cristã, às escondidas, desaprovou a ideia sinistra de sua patroa, e levou a noite, todas as crianças a casa de um padre da cidade e lhes revelou o assombroso, caso, ao que o religioso batizou todas crianças, colocando-lhes os nomes de Eufemia, Genebra, Liberata, Marciana, Marinha, Quitéria, e Vitoria, e ainda procurou famílias nos arrabaldes e doou as crianças para serem criadas.
E os anos se foram, foi quando surgiu uma violenta perseguição aos cristãos romanos, e essas infelizes criaturas caíram nas mãos do infiel cônsul, que era seu pai Lúcio Caio. Interrogadas, revelaram toda historia, ao que foram vitimas, perdoadas, porém ambas não mudaram de religião, levando o pai a tentar subjugá-las, contudo, foi em vão, com medo da fúria de seus pais, ambas fugiram do palácio. Perseguidas, somente uma foi capturada, Quitéria, que recebeu de seu pai a cólera implacável da tirania, mandando martirizar a própria filha, isto ocorreu no dia 22 de maio de 477, sendo sua festa celebrada nesse dia como Santa Quitéria martir. é lá em Flexeiras, o povo se reúne para festejar sua santa e pagar promessas, basta se ver a local dos ex-votos parece uma pinacoteca com a quantidade de fotos existentes, que atestam a fé do povo e as graças de Sta. Quitéria sobre seus devotos.
As ofertas em dinheiro são muitas, semanalmente, para os donos que dirige e administram aquele velho casarão, que não é igreja nem santuário, assemelham-se mais um local de peregrinação. Atualmente, esse local pertence à família Guilherme, que são quatro herdeiros, sendo três filhos e sua mãe. Os moradores do local, não informam quase nada sobre o assunto, o que colhi foi muito pouco, nas contaram-me que, os herdeiros, estão brigando na justiça pela posse do local santo, pois ambos residem no Recife donos de uma grande fortuna, tudo tirado daquele pobre lugar senti que, o que controlava as ofertas era um dos donos, e depois soube que, cada semana um herdeiro é o dono do apurado daquela semana, porém não tive acesso a nenhum familiar do caso em tela, mas que é uma mina de dinheiro é, não sei se em milagres também o seja, mas os ex-votos atestam, enquanto isto, a Igreja Católica, não reconhece o local como santuário, padre não vai lá, informaram-me extra-oficial, que a Diocese de Garanhuns, teria interesse em comprar todo acervo, chegando a oferecer boa importância aos herdeiros contudo ainda não chegaram a um acordo, e o caso está sob-judicial.
No local existe também uma suposta fonte milagrosa, uma torneira derramando onde as pessoas se lavam, dois modestos museus, com imagens das nove irmãs em tamanho natural, sendo esculpidas em gesso e madeira e outros objetos de figuras sertanejas e até utensílios da época da escravidão, mas esse, paga-se dois reais para visitar, sendo o único lugar que é pago. Na minha modesta e pobre análise, senti mais uma exploração ao nosso bom povo sertanejo já tão calcinado pelas intempéries do tempo e dos governos, vi mais fé popular, que religião, mesmo num ambiente mesclado de todas as classes sociais, o local não possui o misticismo que envolve os centros religiosos.
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