SOMOS DEPENDENTES UNS DOS OUTROS

Pe. José Neto de França

É impressionante como no decorrer do tempo, tenhamos que fazer tantos malabarismos para que possamos ser motivados em seguir adiante na saga de nossa vida.

Às vezes, sentindo-nos necessitados de atenção humana, pois de Cristo já temos – claro, pra quem acredita em Deus – buscamos a um, a outro, mas, por motivos diversos ou adversos, não conseguimos atingir tal objetivo... Isso faz parte do palmilhar da vida.

De tanto nos preocupar com aquilo que está sob a nossa responsabilidade; com os outros, principalmente aqueles que nos são mais próximos existencialmente, independentemente do parentesco carnal que possa ter conosco, à medida que a idade vai avançando – ou retrocedendo, já que nosso tempo vai se encurtando temporalmente – vamos sentindo acontecer uma inversão de sentimentos no que diz respeito as preocupações com o humano. Logicamente que o tempo em que essa mudança começa a acontecer vai variar de pessoa para pessoa, de acordo com seu histórico, sua personalidade...

E que mudança é essa?

É o sentir-nos dependente, ou a necessidade de uma dependência; não necessariamente material, mas de amizade, amparo, de carinho, de respeito, de companhia... O perceber de que há pessoas que se preocupa conosco, do jeito que somos com nossas qualidades e defeitos... que quer o nosso bem e farão tudo o que possa estar ao seu alcance para nos ver, nos fazer feliz.

Isso não quer dizer que deixemos de amar e querer dar proteção aqueles que estão próximos a nós. Mas, essa inversão de sentimentos é uma realidade que não podemos negar. Certamente se avançarmos mais e mais na idade, chegará o momento em que ficaremos totalmente dependentes.

A família tem um papel importantíssimo nesse processo existencial. Refiro-me aqui, não somente a família carnal, mas a todos aqueles(as) que são ou foram próximos a nós. Isso porque nem todos constitui uma família de sangue. Eu, por exemplo, que sou Sacerdote, não constitui uma família de sangue, pois todo sacerdote católico é celibatário! E eu fiz essa opção conscientemente.

Digo com conhecimento de causa. Não é fácil ter esse amparo!

Outro dia ouvi alguém dizer que se tivermos fé e confiança em Cristo, já teremos tudo de que precisamos. Claro que teremos! Mas, não podemos nos esquecer que somos humanos e estamos ainda num processo de evolução em todas as dimensões. Mesmo nos sentindo “um com Cristo”, enquanto no tempo/espaço, não deixaremos de sentir a carência humano/temporal.

É só olhar o sofrimento de Jesus Cristo no Horto das Oliveiras. Sentindo-se abandonado pelo humano, em suprema angústia, transpirou sangue e elevou preces aos céus dizendo: “Pai, se é de teu agrado, afasta de mim esse cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim, a tua.” (Lc 22,42). Enquanto isso, seus discípulos dormiam...

Não posso negar que pelo fato de ser Padre (pai), tenho muitos filhos (fiéis). Uns próximos, outros mais distantes. Amo a todos eles, de coração mor!

Cada um tem uma personalidade, daí o tratamento ser diferenciado, isso é óbvio, mas amo-os por igual.

Enigmas da vida...

[Pe. José Neto de França]

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