IDADE ADULTA NÃO É SINÔNIMO DE ESTABILIDADE

Luciene Amaral da Silva

Quando falamos de idade adulta inevitavelmente associamos com estabilidade. No imaginário social acreditamos que na vida adulta teremos estabilidade financeira, através de emprego ou trabalho, casa própria, algum meio de locomoção e renda para suprir nossas despesas.

Acreditamos que na vida adulta temos estabilidade emocional, encontramos nosso amor, que pode ser o outro ou eu, não nos deixamos abalar por questões emocionais porque somos adultos e somos resolvidos. Também acreditamos ter estabilidades do que queremos, fizemos uma graduação que queiramos, temos uma profissão que queríamos, sonhos realizados, ou seja, temos a percepção da vida adulta a partir de características padronizadas do que é ser adulto.

Esse conceito estereotipado de adulto acaba acarretando certos sufocamentos na pessoa pelo fato de ter sido estabelecido uma idade cronológica para se atingir tudo isso que foi construído como papel social do adulto. A vida adulta não passa por uma fase definida pela idade cronológica, idade biológica ou responsabilidades assumidas.

Ela é um processo de desenvolvimento em que apresenta elementos universais do ciclo da vida em qualquer cultura, como amadurecimento biológico, mas que tem seu conceito social de acordo com a cultura em que esse adulto está inserido.

Se formos afirmar que a vida adulta é quando se assume responsabilidades então em algumas culturas o adulto pode ser uma criança com diversas responsabilidades e atribuições. Entender a vida adulta como um processo é entender que cada ciclo de vida para por diversas transformações, então não temos como dizer que a adolescência é uma idade de crises de identidade, por exemplo, porque essas crises também são vistas em diversas outras idades, inclusive na idade adulta.

Vários autores que estudam a idade adulta, uma parte desse ciclo ainda vista de forma insuficiente pela psicologia por buscar cuidar da concepção de infância e adolescência, em que autores acreditam ser a fase de constituição dos problemas de traumas que são refletidos na vida adulta, defendem a ideia da grande influência social na constituição da personalidade do adulto, pois quando se diz “seja adulto” espera-se da pessoa um comportamento estereotipado pelo imaginário social que criou um padrão de adulto como parâmetro a ser seguido e isso acaba criando na pessoa o sufocamento e até crises de identidade por não conseguir dar uma resposta favorável à sociedade.

Criador do conceito “crise de identidade”, o psicanalista Erik Homburger Erikson, discípulo de Freud, afirmou que cada estágio da vida está associado a lutas psicológicas constantes que ajudam a construir e moldar a personalidade. Sendo assim, não existe idade cronológica que nos proteja de crises de identidade e se você esperava que eu concluísse esse artigo de opinião dizendo a você o que ser adulto, sinto te comunicar que é uma resposta subjetiva que envolve diversos elementos e variáveis em sua análise e percepção.

Então, o que deixo aqui é a reflexão sobre a importância de estudar e pesquisar sobre o mundo dos conceitos porque as palavras nunca foram apenas palavras, mas encadeadores de conceitos que busca na subjetividade da análise se firmar como teoria, abordagem e aplicabilidade nas mais diversas realidades. Caso tenha interesse na temática, deixo aqui algumas indicações de leituras.
Até breve!

Infância e Sociedade. Erik Erikson. [tradução Gildásio Amado]. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1976.
Juventude, Identidade e crise. Erik Erikson. [tradução Álvaro Cabral]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Guanabara,1987.
O ciclo de vida completo. Erik Erikson. [tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese]. Erik Erikson. Porto Alegre: Artes Médicas,1998.

@lucieneamaraldialogos

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