Durante muito tempo ouvi esta frase e acreditava que estava certa, porque sempre observei como as pessoas fortes traziam histórias de sofrimento em sua trajetória. então, conclui que para ser forte o pré-requisito era ter sofrido e as histórias de vida traziam a ilusão dessa premissa confirmada no comportamento das pessoas.
Então, comecei a me questionar se pessoas que não passaram por sofrimento seriam pessoas fracas. A partir dessas indagações comecei a observar cada vez mais o comportamento humano para saber se esse senso comum de fato poderia ser entendido a partir de comprovação experimental.
Observei comportamentos de várias pessoas com faixa etária diferente, condição social diversificada, acesso ou não ao conhecimento, escolaridade, regionalidade, fatores culturais, porque todas essas variáveis interferem no conceito de pessoa forte versus pessoa fraca e verificar se o sofrimento fortalece.
A primeira coisa que a pesquisa por observação revelou é que o conceito de forte e fraco sofre todas as influências das variáveis que foram a base da análise. Ou seja, as respostas advindas de conversas informais apontaram que ser forte é: não ter medo de enfrentar a vida, não chorar diante das dificuldades, não reclamar quando as coisas estão difíceis, buscar soluções sempre, não se entregar a dor, ser resistente diante das dificuldades que falta de recursos, lutar para conseguir os recursos necessários, ser forte é estudar muito para ser alguém na vida, é não baixar a cabeça para as pessoas, é buscar sempre resolver, na maioria das vezes sozinho a própria vida. E ser fraca é o contrário de tudo isso.
Você que está lendo pode concordar com toda essa definição, o que podemos trazer para a reflexão é o fato de isso não ser determinante, ou seja, para eu ser forte tenho que sofrer, e se não tiver sofrimento serei fraco, outra questão que deve ser vista é o fato da romantização do sofrimento, ou seja, porque sofrer é fortalecedor, é encantador, deixa o sujeito pronto para o mundo, e nos iludimos com essa frase e acabamos por defender ela, reforçando com discursos que não cabem mais como: “no meu tempo nao tinha essa moleza que tem hoje”. “queria que você tivesse sofrido o que sofri para dar valor”, dentre tantas que com certeza você ouviu diversas vezes.
Isso mesmo, não existe beleza no sofrimento, existe dor e é sobre isso que quero falar. Se no seu tempo o sofrimento te fortaleceu, assim como você acredita, as marcas que esse sofrimento deixou são seus fantasmas e te perseguem até os dias de hoje. Sofrer nunca será a medida da fortalecer, existe formas de ser forte e de fortalecer sem dor, como também é necessário ensinar que não somos "máquinas de guerra” que temos que ser forte sempre, é necessário perceber que o choro faz parte da força. que recuar quando necessário faz parte da força, que mudar de estratégias não significa desistir e se precisar desistir isso não é fraqueza, porque temos que ver quais as variáveis que nos fizeram mudar de planos.
Então o sofrimento não fortalece a pessoa, deixa com sequelas em que ela vai conviver pelo resto da vida sob a égide desse fantasma que muitas vezes a faz perguntar a si mesma “porque sou assim, porque sinto assim, porque penso desse jeito” e sem o entendimento da origem desse fantasma começamos a experimentar o fruto desse sofrimento que é a obscuridade de não sabermos quem somos e se o que somos, de fato somos nós, ou foi construído pelas vontades e ordens dos outros.
Até breve!
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