O abandono está entre os nossos primeiros medos. Assim, segundo Edith Eger, aprendemos desde cedo a perseguir os três desejos que levamos para a vida toda: ATENÇÃO, AFEIÇÃO e APROVAÇÃO. A busca por esses três "As" nos leva a fazer coisas e a suportar situações em nome dessa tríade. O problema está em fazer coisas para ganhar atenção, afeição e aprovação, iludindo-nos de que, dessa forma, estamos sendo amados.
O risco de colocar toda a sua vida nas mãos dos outros é se transformar em prisioneiro do querer alheio. Ou seja, você passará toda a sua vida tentando fazer com que as pessoas o amem a partir da atenção que elas podem, ou não, dispensar a você, da afeição que elas podem, ou não, lhe dar, e da aprovação que podem, ou não, conceder. O preço dessa busca é muito alto.
A questão é que, desde a infância, recebemos mensagens verbais e não verbais de quem nos cria, e que levamos para o resto da vida. Por exemplo: que só seremos amados se formos obedientes; que nossa aprovação em casa depende das notas que tiramos na escola; e, se tiramos um nove, logo ouvimos: "E por que não tirou dez?"
Assim, vamos construindo um manual do que devemos fazer para obter atenção, afeição e aprovação, tudo isso para fugir do abandono. Talvez você não tenha tido o pai e a mãe que merecia: carinhosos, que dessem segurança, que incentivassem. Por isso, pode ter aprendido a buscar tudo isso nas outras pessoas e, para conseguir, sente que precisa fazer sempre o melhor, ser o primeiro da fila, para ser visto, aprovado e reconhecido, já que isso pode ter faltado durante sua formação inicial.
Antes, quando via aquelas crianças, adolescentes, jovens e adultos com tantas medalhas no pescoço ou com grandes prêmios, sentia vontade de ter aquilo também. Hoje percebo a motivação que está por trás desse comportamento e o preço doloroso que essa pessoa paga para manter o status de “ser a melhor” a fim de obter atenção, afeição e aprovação.
Eger afirma que muitos de nós passamos a acreditar que somos amados por causa de nossas realizações, do papel que desempenhamos na família ou porque cuidamos de outras pessoas. Muitas vezes, acreditamos que nosso valor está no que fazemos, e não no que somos. Participei de uma dinâmica em que a mediadora dizia: “Apresente-se sem dizer o que você faz”. Isso levou o grupo a refletir sobre o quanto estávamos condicionados a nos definir por aquilo que fazemos.
Quando a ênfase é dada nas realizações, a criança não consegue sentir o amor incondicional, afirma Eger. Viver assombrado pelo peso do sucesso e das realizações apenas para se sentir amado é nunca poder sentir o que é o amor de verdade
Luciene Amaral
Psicóloga
@lucieneamaral
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