Quando Skinner realizou experimentos com ratos em uma câmara de condicionamento operante, que ficou conhecida como “caixa de Skinner”, na década de 1940, surgiram críticas em relação ao fato de um ser humano conseguir decifrar as bases operantes do comportamento. Ou seja, um ser humano poderia manipular o comportamento de outro.
Inspirado no trabalho de Edward Thorndike (1898), com a caixa de quebra-cabeça e sua Lei do Efeito, Skinner adaptou a ideia para um ambiente controlado, revolucionando a psicologia comportamental.
O experimento consistia em uma caixa com uma barra que o animal deveria pressionar para receber alimento e água. Skinner percebeu que, quanto mais alimento o animal recebia, mais frequentemente ele apertava a barra. Assim, ele postulou que não é o estímulo que antecede o comportamento que o determina, mas sim a consequência que esse comportamento gera.
Em 2025, a caixa de Skinner foi compactada no smartphone. O rato da caixa somos nós, as pessoas; a barra é o próprio aparelho, que vê o dedo deslizar na tela por horas; e o alimento e a água são os conteúdos das redes sociais.
Estamos condicionados pelas notificações dos smartphones. Podemos estar realizando qualquer atividade, mas, quando aquele som ou luz da tela é acionado por uma notificação, largamos tudo o que estamos fazendo para verificá-la, buscar o "alimento". Dependendo do prazer que essa notificação nos proporciona (a consequência positiva), interrompemos apenas por um momento a atividade anterior. No entanto, quando percebemos, aquilo que estávamos fazendo foi completamente deixado de lado e horas se passaram.
A presença de um estímulo (a notificação do smartphone) gera uma resposta do indivíduo a esse estímulo (olhar a notificação), que traz uma consequência muito prazerosa ao visualizar determinado conteúdo em uma rede social de preferência (reforço positivo). É essa consequência agradável que gera prazer, distração, alivia o tédio, mascara os problemas, desconecta da realidade e vicia. Afinal, é esse reforço positivo que aumenta a frequência com que se acessam as redes sociais.
Quanto mais as notificações dos smartphones trouxerem consequências positivas como prazer, interação e recompensas sociais, maior a chance de o indivíduo desenvolver hábitos de dependência relacionados ao uso da tecnologia.
Assim, entramos na nova caixa de Skinner (o smartphone) e seguimos pressionando a barra (as notificações) para obter alimento e água (as redes sociais), manipulados por algoritmos desenvolvidos justamente para nos conhecerem melhor do que nós mesmos.
Luciene Amaral
Psicóloga
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