Construída com base no que os outros querem que eu acredite ser verdade.
Não sabemos mais do que gostamos. Não sabemos mais que caminho seguir. Acredito que quero uma coisa hoje e, amanhã, descubro que não quero mais. Não sei mais como estou vivendo. A única coisa que sei é que estou sendo influenciado por tudo e por todos, o tempo todo.
Esse processo de influência não é algo exclusivo da sociedade moderna. Se voltarmos à história e nos aprofundarmos um pouco (algo raro nos dias atuais), perceberemos que a humanidade sempre esteve sob influência, com um único objetivo: dominar.
O que eu quero que o outro faça, pense, sinta, deseje? A influência vai lá e define. Minha vida acaba sendo construída com base no que os outros querem que eu acredite ser verdade. A influência modela meu gosto, meu paladar, meus planos, meus sonhos, meus projetos, minhas crenças… até meu próprio sabor.
Ela dita se eu tenho alma ou não, se está na moda ter alma, se a trend do momento diz que, para ser aceito, é preciso ter alma. A influência me toma de mim mesmo, me arranca da minha condição humana e me contorce inteira em modelos de comportamento considerados ideais.
Meus pensamentos foram terceirizados. Eu não crio mais. A inteligência artificial faz tudo por mim. Terceirizei meu viver. Gasto minhas energias apenas tentando ser aquilo que dizem que eu devo ser.
Antes, eu até sabia que tinha “puxado” a minha mãe, meu pai, meus avós... Hoje percebo que “puxei” ao algoritmo, que entrou no meu DNA e moldou minha existência. Talvez seja por isso que eu não saiba mais o que é felicidade, porque a trend viral da semana ainda não apontou.
E, quando as cortinas se fecharem, perceberei que não vivi nada , apenas passei a vida tentando viver uma existência que muda todos os dias. Mas, antes que a cortina se feche... poste uma foto minha, por favor, para que vejam como eu fiquei.
Dra. Luciene Amaral
Psicóloga
@lucieneamaral
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