PARÓQUIA DE SÃO CRISTÓVÃO: Panorama Histórico - Pastoral - Parte I

Religião

por Pe. José Neto de França (*)

?Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja Particular (Diocese), e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como a seu pastor próprio, sob a autoridade do Bispo Diocesano?.

(Catecismo da Igreja Católica, n0. 2179 / CIC, cân. 515, § 1)



UM POUCO DE HISTÓRIA

Certo dia, no início do ano de 1960, ao terminar a missa dominical na Igreja Matriz de Senhora Sant?Ana, três pessoas que participaram daquela celebração (Artur Alécio, João Pacífico e Maria José Nobre (in memoriam)) saíram conversando sobre assuntos religiosos e chegaram a conclusão de que seria importante a construção de uma Igreja no bairro da Camoxinga. Passados alguns dias, levaram a sugestão ao Cônego Luiz Cirilo Silva (in memoriam) que acatou imediatamente. Saíram, então, Artur, João Pacífico e Maria José à procura do povo católico da comunidade que pudesse e tivesse a boa vontade de colaborar para tal fim. O Pe. Cirilo se encarregou de anunciar esta boa ideia durante as celebrações; aos poucos, as pessoas foram se achegando e ajudando, segundo as posses de cada um. Também foram dadas sugestões de como angariar fundos. Com o empenho de todos, foram realizados: bingos, quermesses, pastoris, e até um concurso de rainha das crianças, onde as candidatas vendiam bilhetes, sendo que a que mais vendesse seria a vencedora. Na ocasião, disputaram: Maria das Mercês (Cecê), filha de João Pacífico e Vandete; e Vânia Farias, filha de Né Ricardo e Madalena, que foi a vencedora.

Para iniciar a construção da Igreja, Artur Alécio comprou, com recursos próprios, o terreno a Tadeu Oliveira, recursos estes ressarcidos com o lucro do que foi arrecadado. O senhor Duca doou 5.000 tijolos e um carro de boi para trabalhar no período de 30 dias na referida construção. Manoel Mariano ofereceu seu caminhão para comprar as telhas em Petrolândia. João Pacífico não mediu esforços do início ao final da obra. Também colaboraram: Plínio, Manoel Medeiros (in memoriam), João Agostinho, Manoel Vieira (Né), Odilon Silva (in memoriam), Domício Silva (in memoriam), Narciso, Hélio Alécio, Cornélio Aquino (in memoriam), Edvaldo Aquino, Guilhermano (in memoriam) e outros. Com total apoio da comunidade, a obra teve seu início. O primeiro tijolo foi assentado por Guilhermano. O arquiteto da obra foi o Francisco, mais conhecido como Chico de Toinho.

Com o empenho das pessoas que estavam à frente dos trabalhos e da população, a Igreja foi construída. Para padroeiro, foi escolhido São Cristóvão, devido ao fato de que parte das doações foram oferecidas pelos motoristas.

Durante a construção da Igreja, Maria Rosalina, conhecida como ?dona Maria de seu Duca?, foi amadurecendo a ideia da formação de um coral para a nova Igreja. Essa ideia foi comunicada ao Cônego Luiz Cirilo Silva (in memoriam), que aprovou imediatamente. Maria Rosalina buscou, então, a ajuda de Maroquita Bulhões e, no ano de 1962, formou o coral com os seguintes membros: Maria Rosalina, Cicélia, Cleófas, Rita, Maria das Graças de Norberto, Marluce e Salete Alécio, Marinilza, Marlene de Joãozinho e outras. Dentre todos estes membros, deve-se muito a Maria Rosalina e Cicélia que foram as grandes baluartes e quem mais tempo permaneceram, demostrando fé, perseverança e amor pela Igreja e Paróquia.

A Igreja não tinha sido ainda concluída quando o Cônego Luiz Cirilo Silva (in memoriam), contando com seu auxiliar, Pe. José Araújo mandou este, provisoriamente prestar seus serviços à comunidade, enquanto aguardava o término da construção, a criação da Paróquia e a nomeação de um padre definitivo.

No período da construção da igreja matriz, foi realizada a primeira Procissão de São Cristóvão, saindo a imagem da residência de Maria da Glória, no Povoado Pai Mané.

Concluída a obra, foi oficialmente criada a Paróquia de São Cristóvão, desmembrada da Paróquia de Senhora Sant?Ana, conforme Decreto de Ereção Canônica de 12 de fevereiro de 1964. Foi instalada no dia 1º de março do mesmo ano; sendo nomeado como primeiro Pároco, pelo Bispo Diocesano Dom Otávio Aguiar, nesta mesma data, o Pe. Alberto Pereira Santos.

A construção da casa paroquial foi uma das prioridades iniciada e concluída pelo Pe. Alberto.

Com o passar do tempo, o número de fiéis aumentou e o Pe. Alberto sentiu a necessidade de ampliar a Igreja. A comunidade empenhou-se e foi adquirido um terreno. Algumas pessoas como: Margarida Araújo, Margarida Feitosa, Gilza Farias e outras foram a cidades vizinhas e conseguiram dinheiro, cereais, gados e outras prendas que foram vendidos e revertidos para as obras de ampliação da Igreja e também de um Salão Paroquial.

Ainda na gestão do Pe. Alberto, o Pe. Timóteo e irmãos católicos holandeses adquiriram um terreno próximo ao Estádio Arnon de Melo e doaram ao Movimento Bíblico de Santana, representado por José Vieira (in memoriam), que, com a ajuda do pároco, Pe. Alberto, foi construído um grande salão para eventos religiosos e um refeitório anexo, obra denominada ?Centro Bíblico?, hoje, Centro Bíblico Pastoral José Vieira da Silva.

Por volta do ano de 1968, o Pe. Alberto adquiriu e doou ao Movimento Bíblico de Santana do Ipanema um terreno localizado às margens da BR-316, sentido Santana/Carié, no município de Maravilha que, alguns anos depois, já na gestão do terceiro pároco, Pe. José Augusto Silva Melo, foi construída uma pequena capela dedicada à Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do movimento. Este terreno foi denominado ?Santuário do Tigre?, ou ?Bosque do Tigre?, ou ainda ?Santuário das Comunidades; e é utilizado com frequência para os grandes Retiros e principais Encontros.

No final da década de 60, o Pe. Alberto e alguns membros da comunidade idealizaram e providenciaram a montagem de um pequeno transmissor que muito iria ajudar na missão de evangelizar. Para isso, contratou o radiotécnico, José Gomes, que executou esta ?maravilha? para a época. Concretizado esse sonho, com recursos próprios, foi levado ao ar o programa: ?a Voz de São Cristóvão?. Passados alguns meses, a paróquia foi aconselhada a suspender esse magnífico trabalho. O Brasil inteiro vivia ?os anos de chumbo? da ditadura. Houve muita tristeza por parte dos que estavam habituados com a programação de apenas uma hora da ?voz de São Cristóvão?. A comunicação, principalmente com o campo, foi muito prejudicada. A cidade não contava ainda com nenhuma emissora de rádio. A programação constava de catequese bíblica, avisos da paróquia, da comunidade, e até os violeiros José de Almeida e João Paraibano levaram ao ar suas trovas através desse programa.

Após um período de silêncio forçado, o programa, ?A voz de São Cristóvão?, voltou novamente ao ar, mas, pouco tempo depois, a paróquia recebeu uma visita da ANATEL, através de um delegado da Polícia Federal do Recife que, educadamente, intimou a paróquia na pessoa de seu pároco, o Pe. Alberto Pereira Santos, a mais uma vez silenciar a preciosa rádio.

Soube-se mais tarde que alguns membros da sociedade mais abonada prestaram esse desserviço à comunidade, denunciando o ?perigo? que aquela programação representava para a República. Aí já surgia um sindicato incipiente.

Ainda sob a administração do Pe. Alberto Pereira Santos, aconteceu que o Lyons Club trouxe a Santana do Ipanema o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Palmeira dos Índios, Pedro Alexandrino, e começou a promover reuniões nos sítios do município. O Pe. Alberto, zeloso sacerdote, defensor do genuíno catolicismo, sentiu que havia interesse político na jogada. Por essa razão, enviou olheiros para observar o desenrolar dessas reuniões e que posição tinham com relação à Igreja. Foram eles: José Vieira (in memoriam), Espedito Viana e José Preto; todos amigos da Bíblia. De posse do relatório, foi à terceira reunião, no Sítio Poço Salgado. Lá perguntou a Pedro Alexandrino quantas pessoas eram necessárias para a instalação de um sindicato e ele respondeu que dez seriam suficientes. O Pe. Alberto consultou, então, a José Vieira (in memoriam) que prontamente disse que havia muito mais gente para essa tarefa. Durante essa terceira reunião, os amigos da Bíblia dominavam a situação, pois, além de liderança, estavam habituados a falar e discutir questões pertinentes à Sagrada Escritura. Assim surgiu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Ipanema que funcionou em uma casa vizinha à casa paroquial de São Cristóvão, até a construção de sua sede própria. O início foi muito árduo para os pioneiros. Grande parte da sociedade não via com bons olhos um sindicato de trabalhadores. Foi fundamental o apoio da paróquia. Esta foi uma obra de grande alcance social empreendida pelo movimento bíblico da paróquia de São Cristóvão.

Foi na gestão do Pe. Alberto que foram construídas as capelas dos povoados São Cristóvão e Várzea de dona Joana.

O Pe. Alberto Pereira Santos permaneceu como Pároco pelo período de 15 anos e 10 meses.

(*) Texto extraído do livro PARÓQUIA DE SÃO CRISTÓVÃO: Panorama Histórico - Pastoral, de autoria do Pe. José Neto de França

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