O Museu no Balanço das Águas volta a navegar pelo rio São Francisco em setembro

Cultura

por Jorge Barboza

O barco-museu ganhou nova escultura de Zé de Tertulina, a 'Gata Borralheira'

Este ano, o barco-museu realizará mais uma ação de arte-educativa em três comunidades sertanejas nos municípios de Belo Monte, Pão de Açúcar e Piranhas
 
Uma nova edição do projeto ?O Museu no Balanço das Águas? se aproxima. Maria Amélia Vieira e Dalton Costa, artistas visuais proprietários em Maceió da galeria Karandash, que criaram em 2008 o museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea, cujo braço sertanejo é o barco O Museu no Balanço das Águas, ancorado em Pão de Açúcar ? município às margens do rio São Francisco, a 227 km da capital ?, coordenam esta jornada de arte-educativa no sertão alagoano. O projeto, este ano patrocinado pela Funarte, com apoio do Sebrae-AL e da galeria Karandash, é mais uma ação deste núcleo fluvial da Coleção Karandash, que já há cinco anos vem trabalhando com escultores populares e bordadeiras daquela região do baixo São Francisco, levando oficinas de arte-educativa às crianças e adolescentes de povoados às margens do rio (de cidades como Pão de Açúcar e Piranhas), dando oportunidade a esses jovens de conhecerem e praticarem o cinema, a fotografia, o desenho, a pintura, a escultura e até o cinema de animação.  

Celso Brandão, Dalton Costa, Maria Amélia Vieira e Pedro Octávio Brandão reunidos na galeria Karandash, em Maceió


De 7 a 15 de setembro próximo, o barco-museu (também chamado Santa Maria, nome original da antiga embarcação que fazia transporte de passageiros pelo rio afora) ancorará novamente na Ilha do Ferro (Pão de Açúcar) e em Entremontes (Piranhas), povoados que já haviam sido contemplados, no ano passado, pelo projeto ?Cinema no Balanço das Águas Segunda Edição? (com patrocínio do Banco do Nordeste). Este ano, o pequeno município de Belo Monte, que havia recebido as primeiras oficinas de ?O Museu no Balanço das Águas? em 2008, voltará a integrar a programação do projeto.

As oficinas de ?O Museu no Balanço das Águas 2013? começam juntamente com as comemorações do 7 de setembro, em Belo Monte (dias 7, 8 e 9), seguindo para o povoados Ilha do Ferro (10, 11 e 12) e Entremontes (13, 14 e 15). São seis oficinas, três dias em cada comunidade, com sete horas/aulas por dia de oficina. Foram convidados novos artistas para monitorarem as oficinas e chamados de volta outros que fazem parte dessa experiência desde o comecinho lá em 2008. Os estreantes são os mineiros cariocas Rubem Grilo e Adriana Maciel, que realizarão, respectivamente, as oficinas ?Colagem ? Papeis das Imagens?, de xilogravuras, e ?Assim É, se lhe Parece?, unindo cenografia e artes visuais. Além destes, o fotógrafo e documentarista alagoano Celso Brandão também foi convidado pela primeira vez para realizar uma das disputadas oficinas de fotografia. Os outros artistas ? oficineiros de carteirinha do projeto ? são Juarez Cavalcanti (Fotografia), Dalton Costa (Escultura) e a própria Maria Amélia, responsável pela oficina de Pintura e Desenho.

Capitão Dalton (foto: Jorge Barboza)


?A oficina ?Colagem? considera a prática como vivência individualizada. O seu uso, na criação de um imaginário, implica em uma experiência que se confirma na cultura popular da região. Os elementos que fazem parte determinante da realidade se apresentam transfigurados de modo lúdico na representação. O objetivo é estimular criativamente o afloramento desta percepção?, pondera Rubem Grilo, de 70 anos. A oficina ?Assim É, se lhe Parece? ? que será realizada conjuntamente por Adriana Maciel e Maria Amélia Vieira ? criará uma peça alegórica representando histórias e lendas do rio. ?A proposta consiste em criar uma obra coletiva que será a representação fictícia do rio São Francisco. A ideia é desenvolver um ser mitológico com as características das lendas locais. Dessa forma, a obra agrega as estórias e histórias do São Francisco, estimulando a memória e imaginação dos alunos?, explica Adriana, de 49 anos.

Os monitores estão animados. No início do mês, o time maceioense ? exceto Juarez Cavalcanti, que não estava na cidade ?, reuniu-se na Galeria Karandash (Av. Moreira e Silva, Centro) para discutir os preparativos desta jornada renovada do barco-museu, que exibe na proa e convés esculturas de artistas populares consagrados da região, como Fernando Rodrigues, Véio, Resêndio e Zezinho, e que foi totalmente reformado, ganhando pintura e motor novos.

O casal Dalton Costa e Maria Amélia Vieira


?Primeiro, vou pedir para os alunos, de papel, caneta ou lápis em punho, para desenharem o visor da câmera, subdividindo os retângulos da máquina. Participei uma vez de uma oficina semelhante no rio Paranaíba, mas os alunos desenhavam na areia... Depois de estudarmos esses elementos básicos da constituição da imagem, essa garotada deverá pegar a câmera para fotografar buscando linhas, áreas, planos e depois retângulos. A produção de cada aluno será selecionada para ser impressa em papel de fotografia. Com esse material, faremos uma exposição em cada lugar? ? o fotógrafo Celso Brandão, 61, esmiúça a dinâmica da oficina que realizará nas três comunidades beneficiadas pelo projeto. Brandão diz que, com esse trabalho, quer ?passar noções básicas? para os dez alunos que frequentarão as oficinas, com faixa etária entre oito e 20 anos.
 
Sustentabilidade

A oficina de Dalton Costa busca a renovação da mata ciliar.  O escultor trabalhará com diversas mudas da região, estimulando entre os jovens a preservação da Natureza. ?Quero que os alunos entendam essas questões e trabalhem com a sustentabilidade. Iremos fazer um plantio da mata encontrada na calha do rio. Já compramos diversas mudas: craibeiras, barrigudas, ingá e pau d?arco de várias cores. Plantaremos 20 mudas em cada comunidade. Vamos construir abrigos para as mudas, na verdade, esculturas que terão a função de proteger as mudas?, afirma o artista, de 58 anos. A oficina é destinada aos jovens entre dez e 17 anos. ?Cada uma dessas mudas plantadas será cuidada por um monitor. Ao cabo de seis meses, a árvore mais viçosa e mais bem tratada receberá um prêmio. Serão premiados os primeiro, segundo e terceiro lugares. Com isso, espero estar estimulando o cuidado com as árvores?, arrisca Dalton.

O mais jovem da equipe, Pedro Octávio Brandão, de 26 anos, já veterano das navegações artístico-didáticas do Santa Maria, tendo participado das duas edições do projeto ?O Cinema no Balanço das Águas?, em 2010 e 2012. Octávio fará um documentário sobre esta nova ação do barco-museu, realizando também um making off de todas as atividades do projeto de 2013. ?Pretendo fazer esse trabalho da maneira mais cinematográfica possível. Ele terá mais um estilo de documentário artístico do que o formato de ?doc? para televisão. Como esta já é a terceira ação do barco-museu de que participo, estou mais seguro do que irei realizar, corrigindo erros cometidos anteriormente?, avisa o documentarista.

O 'mineiro carioca' Rubem Grilo fará oficina de colagem com xilogravuras


A coordenadora Maria Amélia Vieira, 58, diz que o ?O Museu no Balanço das Águas? cria um link entre o rio São Francisco e a população das comunidades ribeirinhas envolvidas com o projeto. ?As crianças ficam loucas quando veem o barco chegando. Na minha oficina, trabalharei com as histórias de vida desses jovens, trazendo para o desenho e para a escultura temas que tenham a ver com a realidade de todos eles.? 

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