O monsenhor Luis Marques, dois padres e os ex-coroinhas

Opinião

Por Goretti Brandão

O que entra em julgamento, afinal?

Mais um escândalo envolvendo um monsenhor e padres da Igreja Católica, ocupa o cenário no mundo da notícia. Ex-coroinhas resolvem denunciar abusos sexuais sofridos. Aqui, no Cada Minuto, nas páginas onde informação satisfaz a curiosidade dos leitores, os comentários se multiplicam. Alguns defendem os rapazes envolvidos, outros, os sacerdotes, outros a Igreja, enquanto instituição. Alguém insinua que em outras cidades alagoanas há o que ser investigado à respeito do mesmo assunto, outros elogiam a coragem de Roberto Cabrini, o trabalho do SBT, alguns acusam os ex-coroinhas por extorsão e chantagem. Ainda, há quem chame o advogado, Daniel Fernandes, contratado dos padres, como Advogado do Diabo. Quem está com a razão?

Pela manhã, ao fazer a minha leitura costumeira pelos jornais de Maceió, me deparo logo de cara, com a notícia, que me leva a ver o vídeo, e nele, as cenas desfocadas, mas que dão pra perceber, do ato sexual praticado, entre um monsenhor e um jovem. A notícia causa estardalhaço, revolta, pontos de vista divergentes, indignação e muito disse-me-disse. Em Arapiraca, principalmente, palco aonde o caso vinha se dando. A princípio, é natural até, a gente tender a enxergar os fatos pelos olhos do repórter. O formato da notícia, a carga emocional, a intensidade, é dada pela entonação da voz do jornalista, pela força das palavras, pelo peso das suas expressões.
Mas o fato é que realmente a coisa aconteceu. As imagens, é sabido, falam mais do que as palavras, e ainda; sobre fatos, as justificativas são nulas. Nulíssimas. Pelo menos deveriam ser. Mas, afinal de contas, quem são os réus e quem são as vítimas? Eu diria que muito mais que as imagens, e muito além dos julgamentos, os pesos e a balança que pesam e que julgam o caso deverão ser especiais. O que está em julgamento? A Fé em Cristo, nos sacerdotes, na Igreja? O que precisa ser avaliado? A condição da natureza humana imperfeita? A degradação de valores? A conivência, leia-se omissão, a partir da atitude do bispo em Penedo( que tinha conhecimento dessa fita)? A possível extorsão praticada pelos ex-coroinhas? A ausência de ética desses sacerdotes?

O monsenhor Luis Marques foi categórico, quando em entrevista a Cabrini, sem saber o que viria adiante, respondeu que as duas palavras mais importantes para ele eram sinceridade e caridade. Mais adiante ele fala sobre a mentira que há no mundo. Ao ouvi-lo falar e ao assistir o vídeo, tem-se a impressão de que se está vendo duas pessoas distintas. Nada impressionante. Isso faz parte de uma outra parte da mesma pessoa. Os rapazes, Fabiano, Flávio e Anderson, de maioridade, também parecem outras pessoas, apesar dos depoimentos, das vozes pesarosas, da revelação de traumas. Ambos ex-coroinhas, agora, fora das obrigações na Igreja, possivelmente livres do assédio do monsenhor, voltam a estar com ele. Por quê?

Grosso modo: Um, mantendo relações sexuais, outro filmando e os três, em seguida, fazendo relatos tensos ao repórter do SBT. Há dinheiro envolvido. R$ 30.000,00. Há negociação e acordo. Há advogado intermediando esse acordo. Há, no dizer do rapaz que fez a filmagem, ?a vontade de dar um basta naquilo?. Mas o que dizer do dinheiro? Esses fatos e esses detalhes são o que vêm à margem. É a famosa ponta do iceberg, enquanto ficam submersas as questões éticas, morais, o caráter religioso, a comunidade católica, a Igreja, a Fé dos que se sentem traídos. Há um Cristo em cada um, da forma como cada um o concebe, que fica à deriva, que é consubstancialmente expulso dos ritos sacramentais, transpassado pela lança do desrespeito de um homem contra outro. No caso, de sacerdotes contra crianças, porque estas estão sendo sacaneadas atrás das sacristias, no momento em que as pessoas se dividem entre taxar de réus, os verdadeiros réus, e de vítimas, as verdadeiras vítimas.

Seria um tipo de vingança desses jovens, extorquirem esses padres? Extorquirem, ao mesmo tempo em que tornarem público, a situação existente nessas paróquias? Seria a prática distorcida de uma sinceridade consigo mesmos, na tentativa de se libertarem de um passado tramático, e o exercício da caridade para com os coroinhas que estão em seus lugares, e, possivelmente sendo novas vítimas? Em tempos tão caóticos, qual a ética que norteia as atitudes das pessoas? Qual a tradução para as palavras: sinceridade, caridade e mentira, embutidas nas respostas de um monsenhor a uma entrevista, onde ele as pronuncia, sem ao menos titubear diante de um repórter?.

O advogado afirma que se trata de homossexualidade. E antes? Esses jovens não foram meninos? A quem Cristo olhará com mais caridade? Para a natureza humana imperfeita dos seus sacerdotes ou para a inocência desfeita das crianças? ?Ai de quem escandalizar uma criança?, disse Jesus. O monsenhor afirma que Cristo perdoa o pecador. Inclusive o que pratica um pecado mortal, tal qual ele classificou como sendo a pedofilia. Basta que o homem se arrependa. Basta então que a Igreja se arrependa da omissão? As pessoas continuam dando as suas opiniões, aqui no Cada Minuto. A notícia é, sobretudo, bombástica. Quem está com a razão? O coração de Jesus é sagrado e bom. E justo. Jesus está entre os dois lados de uma mesma moeda: a natureza pecadora do homem e a impureza praticada contra as crianças, seus coroinhas. Mas Ele tem discernimento. Nós, não!

Comentários