BELEZA IMPORTA?

Outras Peças Literárias

por Joaquim José Oliveira Chagas

Retrato de um velho homem. (Rembrandt)

“E Deus viu que tudo era [belo] bom” (Gên. 1, 31).


Ainda sob o impacto da notícia do falecimento do maior filósofo conservador inglês ocorrido em 12/01/2020, e coincidentemente, estava acabando a leitura de sua obra intitulada “beleza” que comecei a escrever estas reflexões acerca do que vem acontecendo no mundo e como estamos perdendo nossas referencias estética sobre o que é Belo, e o que é Arte.

De acordo com São Tomás de Aquino “A beleza designa aquilo que suscita no homem o sentimento de admiração”. Três são os elementos constitutivo da beleza:
a) Primeiro, integridade ou perfeição (integritas), pois as coisas inacabadas, enquanto tal, são feias;
b) Também se requer a devida proporção ou harmonia (debita proportio); e
c) Por último, se precisa a claridade e o esplendor, motivo pelo qual aquilo que tem cores claras e nítidas são chamadas belas (claritas).

Dois são os gêneros de beleza, a física que se refere à beleza do corpo, e a espiritual, que se refere à beleza da alma. A beleza do corpo consiste em que o homem tenha os membros corporais bastante proporcionados, já se diz que beleza é proporção.

De igual modo, a beleza espiritual consiste em que a conduta do homem, isto é, suas ações, seja proporcionada segundo o esplendor espiritual da razão.

Como sou geração Baby boomer, fui criado vendo, aprendendo e acompanhando as novidades que chegavam até nós vindas do exterior, (para nós de Santana, Maceió era exterior) não em doses cavalares, como hoje por conta do milagre proporcionado pela Internet, mas a nossa admiração e deslumbramento era principalmente quanto a beleza dos produtos, seu acabamento e durabilidade. Aos poucos, nossa indústria por mimesis foi aprendendo e nossos produtos foram se sofisticando ficando também muito bons e duráveis, seguindo o conselho de Santo Tomás, os produtos tinha: integritas, debita proportio, claritas.
Dito isto, o que me incomoda atualmente, é como a indústria mundial (Brasil incluso) vem perdendo o glamour, a sofisticação por conta da enxurrada de lixo pseudo-tecnológico chinês que chegam ao nosso comércio de forma desleal tendo em vista como são produzidos naquele País. As pessoas não se dão conta de quanto estes produtos refletem a cultura ou a Weltanschauung a maneira como estes povos veem o mundo.
Wittgenstein dizia: Que os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo, isso vale da mesma forma entre linguagem e realidade, pois a linguagem é o espelho do mundo e só por meio dela se pode compreender a realidade; quando vemos um objeto feito pelo homem ou por ele projetado ali está refletido sua realidade intelectual, ou mesmo espiritual. Isto posto me acompanhe nestas reflexões:
A beleza salvará o mundo? Como? Se a cada dia o relativismo cultural joga uma pá de cal no senso do belo, se tudo é arte, qual o mérito de conquistar este título? A velha discussão de que tudo é arte. Quando o artista francês Marcel Duchamp usa um mictório, intitula de “A Fonte” e expõem e diz que é uma obra de arte, ou mais recentemente quando colaram uma BANANA na parede com fita crepe em uma exposição em Nova York, e foi vendida por milhares de dólares. Durante a exposição um cidadão, tira a banana da parede e come. O fundo do poço do que vem a ser Arte alcançou outro nível.

Vamos a outros exemplos: A outrora respeitada Academia Sueca entrega o prêmio Nobel de literatura a Bob Dylan pelo conjunto de sua obra. Veja como o padrão está raso, um compositor de música pop-rock é elevado à categoria de grande literatura. E o prêmio Nobel da Paz é entregue a Barack Hussein Obama, considerado pela maioria dos americanos o pior presidente da história. Estes são apenas alguns exemplos de como baixamos nossos padrões éticos e estético, nosso olhar obnubilou-se.
Como a Beleza se comporta nas realidades socialistas.

Na arquitetura:
As cidades são monótonas porque o igualitarismo foi aplicado até nas construções, tornando a paisagem monocromática, feia e desalmada. A uniformidade como padrão. Quem conhece Brasília com suas quadras todas iguais sabe do que estou falando. - A cidade que não tem esquina, é exemplo perfeito desta influência, foi projetada para isolar o poder do povo, já imaginou quantas pessoas são necessárias para em um protesto dar conta de encher a explanada dos ministérios. Morei alguns anos lá e ouvia muito – “ Aqui ou você gosta ou odeia, não existe meio termo. Brasília foi tombada é patrimônio da Humanidade é verdade, não pode ser modificada mais não é uma cidade bonita.

As nossas cidades são espontâneas, você passa em uma rua pela manhã, e pela tarde ao voltar você se surpreende com uma modificação, seja numa faixada diferente, uma calçada ou uma pintura nova etc. as pessoas têm liberdade de mudar
Onde será o Belo na Coréia do Norte?

Na assepsia das ruas? No monocromático das suas roupas? Na uniformidade das suas construções? É um país de uniforme.

E o Belo em Cuba? Cidades decrepitas? Visitar havana é entrar no túnel do tempo; se um carro passar por você tocando “Guantanamera” você é transportado aos anos 50 pré-revolução quando a Ilha tinha a maior qualidade de vida das América Central e Sul. E ainda há quem acredite na sua medicina.
E o Belo na Rússia? Todos os palácios, museus, estações, enfim, todo o conjunto arquitetônico digno de admiração foi construído na era czarista, sob a inspiração do cristianismo ortodoxo.

Quanto a produção socialista basta nos lembrarmos que a corrida armamentista e Espacial da guerra fria, produziu o eficiente fuzil AK-47 e a “beleza” do carro Lada, o míssil intercontinental e o liquidificador que não funciona, porque o povo nunca foi prioridade para esta ideologia da morte.

O Belo na China? Vocês já pararam para observar os produtos chineses? Um País que sedia as maiores fabricas de produtos de primeira linha americanos e europeus, tais como Nike, Apple, Vuiton etc. (por conta da mão de obra barata) porém pirateia tudo que vê, copia em baixa qualidade e exporta para o mundo. - Costumo dizer que a china é a maior exportadora de lixo travestido de brinquedos, roupas, utensílios para o lar e todo tipo de bugigangas eletrônicas. Nós, iguais a índios da época do descobrimento (porque os atuais usam I-phone) compramos hipnotizados estas “novidades”, ruins, disfuncionais e perigosas. É deste incomodo que eu falava, que me levou a esta reflexão. - Já compararam o designe de um rádio chinês com um fabricado pela nossa indústria.

É o que falava o nosso maior filósofo inglês Roger Scruton quando disse: “Penso que estamos perdendo a beleza. E existe o perigo de que, com isso, percamos o sentido da vida. ”

O Politicamente Correto, está tentando nos calar, mesmo diante da pintura mais horrível, da escultura mais sem noção, a apresentação teatral pífia e muitas vezes ofensiva, do cantor sem voz, da música que a letra não contempla um consoante sequer, mesma assim somos obrigados a achar lindo, bonito, tudo é manifestação popular. No máximo podemos dizer para disfarçar – É interessante. A feiura está dominando o mundo; como faz falta a lucidez de um Flavio Cavalcante na música, uma Barbara Heliodora no teatro, um Paulo Francis na imprensa, hoje faltam verdades e sobram mau gosto.

Como diz Roger Scruton parece não haver distinção entre o bom gosto e o mau gosto, mas somente entre o seu gosto e o meu”. E continua, o que este mundo teria em comum com o mundo de Giotto, Velásquez, Cézanne, Rembrandt, Monet, um Bach, um Dom Quixote, um Leonardo da Vince, um Michelangelo etc.

Platão e Botticelli nos dizem que a verdadeira beleza está além do desejo sexual. Então podemos encontrar beleza não somente em uma pessoa jovem e desejável, mas também num rosto envelhecido, cheio de pesar e sabedoria, como a pintura de Rembrandt. A beleza de um rosto é o símbolo de uma vida expressa nele, sua carne se transforma em espírito e ao fixar nossos olhos nele, vemos através da alma. Pintores como Rembrandt foram importantes por nos mostrarem a beleza como algo corriqueiro, ela está ao nosso redor, precisamos apenas dos olhos para vê-la e do coração para senti-la.

Porque a Bíblia diz que quem ver a face de Deus morre? É porque a sua beleza é tão imensa, tão incomensurável, tão inaudita e inexprimível que a cada vez que visse a Deus o homem se mataria de amor por não resistir a tamanho acesso de paixão.

Isabel Guerra – freira pintora espanhola



Como disse a Irmã Isabel Guerra a freira pintora ainda há ESPERANÇA: “A beleza existe, nem tudo está perdido” ou Dostoievski: A beleza salvará o mundo, portanto, A BELEZA IMPORTA SIM.

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