E O CARVÃO FICOU PRA PUTA...

Crônicas

Antonio Machado

Dos tipos populares da cidade de Olho d’Água das Flores, Josias Augusto era um deles, da tradicional família “Abreu”, fundadora da cidade, era de cor clara, mas depois que começou a negociar com carvão, acabou ficando preto, por que não gostava de tomar banho, aí o carvão foi se arraigando no couro cabeludo, dando-lhe uma cor escura, sem ser negro. Josias não casou, porém era muito achegado a uma puta, sempre tinha uma com ele, teve grande amizade com uma prostituta que viveu nesta cidade, que atendia pelo o nome de “Faísca” que ainda bem jovem, dentro de um corpo muito mal desenhado, constituía-se a paixão de Josias, que nunca foi pai.
Em sendo irmão do maior político do passado, desta cidade, Orlando Augusto Melo, que fora prefeito em três mandatos, Josias chegou a ser servidor da prefeitura, numa das gestões do seu irmão, porém veio a si afastar, ingressando no comércio da venda de carvão. Quando jovem gostava muito de cachaça, porém com a idade e a doença, veio a deixar, era também portador de vitiligo nas mãos, sem, contudo, deixar de ser uma pessoa engraçada, sem ofender a ninguém, simples e muito respeitador. Analfabeto, sem nunca ter se envolvido com política, mesmo sendo irmão de político. Levou, Josias Augusto, uma vida pacata, vindo a falecer com mais de setenta anos de idade, em 25 de maio de 2003, tendo deixado uma casa na rua são Jorge onde residia com uma quenga chamada Rosivânia tendo em vida, Josias, passado a casa para a concumbina.
Quando o poeta Zé Orêncio do Tamanduá soube de seu falecimento, e em sendo bons amigos de eras datas, apressou-se em lhe fazer a última visita. Na ocasião este cronista também chegou ao velório por ser também, amigo de Josias. Depois da visita nós viemos juntos. Dias depois, escrevi esta décima, e deixei com o poeta Zé Orêncio do Tamanduá, pedindo-lhe que concluísse o trabalho.
Josias Andava adoentado, Não ligava mais pra mulher mal vestia a calça em pé E só vivia acocorado, Com os mocotós inchados, Com vitiligo nas mãos Não desabotoava o cinturão, Nesta vida muito sofreu, Depois que Josias morreu Pra quem ficou o carvão?
O poeta Zé Orêncio do Tamanduá, hoje com 90 anos é o poeta mais pornográfico que conheço, mas mesmo assim é muito procurado, possui um livro inédito, que organizei com suas poesias, quase 80% do livro é proibido para menores de 18 anos, eu intitulei de “o livro proibido”. Dias depois, procurei o poeta para obter a resposta do meu verso, ao que ele prontamente me entrega estas duas décimas:
Josias tinha uma amizade Com uma mulher da vida, Que era bem parecida, E até nova na idade, Então aqui ma cidade, Josias viveu na luta Adoeceu e fez consulta Mas o remédio não resolveu Não teve cura e morreu E o carvão ficou pra puta.
Josias não tinha intriga Era trabalhador por demais, Com as putas tinha cartaz Os amigos que o digam, Gostavam de uma rapariga, Que não tinha boa conduta Era uma quenga astuta, E com ele sempre viveu, Depois que Josias morreu, O carvão ficou prá puta.


Ps: Extraído do meu livro inédito, Olho d’Água das Flores e sua história.

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