As tradições e crendices envolvendo a Semana Santa, tão levadas a sério, pelos nossos pais e avós, já a muito, perderam o sentido e caíram no desuso. Hoje em dia, contá-las aos nossos filhos, é até motivo de chacota. E muitos deles, teimam em não acreditar que realmente fosse como era. E como estamos contando.
Senão vejamos. A Semana Santa começa no Domingo de Ramos. Esse dia é assim chamado porque nele acontece a Procissão dos Ramos, que relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. A tradição manda que depois de acompanhar a procissão, se guarde os Ramos Bentos, o ano inteiro. Com um detalhe, o ramo do ano anterior, deve ser queimado na fogueira, no dia de São João. A quem diga que no dia do Juízo quem não tiver um raminho desses não vai conseguir entrar no Céu.
Na terça-feira e quarta-feira santas também tem procissões: A do Senhor dos Passos. Na quinta-feira santa, segundo a tradição, é um dia propício para pescar, pois o peixe dará com fartura. Nesse dia tem a missa, que celebra a instituição da Eucaristia. A Santa Ceia, com o Ato do Lava-Pés, que relembra o momento em que Jesus lavou os pés dos apóstolos.
E na Sexta-Feira Santa: Esse é o dia mais Santo da Semana Santa. Nele relembramos o dia da morte de cruz de Jesus. Eis algumas tradições antigas, de coisas que não se podia fazer nesse dia: Não se podia varrer a casa, nem cortar os cabelo ou as unhas, nem tomar banho. Não é à toa que na Semana Santa e na quaresma aparecem mais moscas nas casas! Também, com tanta falta de higiene era pra aparecer mesmo! Nem se olhar no espelho podia!
Não se fazia nenhum tipo de atividade física que denotasse trabalho. Não podia viajar. Se alguém morresse só se enterrava no sábado! Não podia ouvir música. Ligar o rádio ou a televisão: Nem pensar! Não se podia jogar, fosse qual fosse o tipo de jogo.
Não podia bater nos filhos, mas tinha uma ressalva: Podia encarcar! (no Aurélio: encalcar: comprimir, apertar...).
Não se vendia sal: Se fosse realmente necessário se dava. Não se comprava nem se vendia nada nesse dia. Dizer palavrão: Quem dissesse ia pro inferno! Quem cometesse qualquer dessas faltas era considerado um Judas! Estaria condenado ao fogo eterno.
E o jejum. Todos deviam jejuar. Algumas pessoas, jejuava o dia todo. O jejum consistia de tomar apenas um pequeno café com um pedaço de pão pela manhã. Doentes e crianças eram liberados dessa penitência. Alguns jejuavam só até o meio-dia, quando aí se fazia uma refeição farta, de uma comida toda feita a base de coco, sem carnes de criação, só podia peixes e regada a vinho.
Interessante era na noite do sábado de aleluia: Próximo da meia-noite, grupos de pessoas saiam pelas ruas batendo uma matraca. Alguém levava um serrote e um pedaço de madeira, e iam pelas portas das casas que morasse uma pessoa bem idosa. Iam serrar os velhos! (uma simulação de como se estivessem confeccionando um caixão de defunto para aquela pessoa idosa, era seguida de choros e lamentações! (Um mau agouro!). E, vejam só: Podia-se, roubar galinhas, nesse dia não era pecado! E fazer a malhação de Judas era uma tradição quase religiosa. Tinha também a história de se procurar uma gota de sangue a meia-noite na igreja. Dizia-se que se a mesma não fosse encontrada, o mundo iria se acabar naquele ano.
Muitas dessas tradições, é melhor que façam parte de um passado mesmo, e que tenham caído no desuso, pois não dá pra se conceber, tanta hipocrisia, tantas atitudes sem nexo. Inconcebíveis, não só para aqueles dias, como, para qualquer época, principalmente no que se refere a alguns princípios básicos de higiene e cidadania.
Proponho criar novas tradições, pra Semana Santa. Já que os jovens, principalmente eles, acham tão absurdos, aquelas de nossos pais e avós. Pelo menos irão encarar essas novas, com uma certa “naturalidade”. Por exemplo, na Semana Santa: Jogar os garrafões de vinho vazios em terrenos baldios, nas ruas e nas estradas: Pecado grave! Jogar restos de peixes e comidas, copos descartáveis e garrafas pets, nas vias públicas, idem. Destruir os galhos de uma árvore só pra fazer o enchimento de um “Juda”, deveria ser considerado um pecado! Passar o dia todo ocioso na internet nas salas de bate-papo em uma Lan House, também. Se “pendurar” num celular ou aparelho MP3 com headfones, o dia todo, então: Seria um pecado, altamente capital!
Ao invés disso, que tal aproveitar o feriado santo e visitar um asilo de idosos ou um presídio. Se possível leve junto, uma fritada de peixe ou um saco de bombons. E a única malhação que não devia ser considerada pecado seria as ginásticas. Feitas com moderação. Elas só fazem bem para o corpo e para o espírito.
09/04/2009
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